UM GRUPO de importantes jornalistas pede hoje
que Edward Kennedy, o correspondente da Associated
Press que anunciou o fim da II Guerra Mundial, receba um prémio Pulitzer
póstumo.
Para além de premiar com justiça, esta pretensão quer ver cumprida
uma reparação para quem foi um excelente jornalista toda a sua vida. Por vezes,
cumprir as suas obrigações, ser-se honesto e comprometido e ter talento não
basta para se conseguir o reconhecimento profissional, pelo contrário até pode
converter-se na causa capaz de destruir uma carreira. Foi o caso de Edward
Kennedy e digo-o eu, que sei do que falo.
Edward Kennedy era correspondente de guerra da Associated Press (AP) e teve a infelicidade de dar uma das mais
importantes e melhores notícias da primeira metade do século XX: o fim da II
Guerra Mundial! Foi aí que começou a queda em desgraça de Kennedy, ao cobrir em
7 de Maio de 1945 a
rendição incondicional da Alemanha nazi na cidade francesa de Reims.
Foi então que os países aliados decretaram um embargo de 36 horas
sobre esta notícia, a fim de ganharem o tempo necessário a um acordo dos
anglo-americanos com os soviéticos, entre os quais havia surgido um certo
desentendimento antes desta notícia se tornar oficial. No entanto, ao longo
desse mesmo dia algumas rádios alemãs deram a notícia, possivelmente para
alertar alguns comandos militares e para avisar determinadas figuras do regime
que quisessem abandonar o país.
Ao verificar que os alemães não estavam a respeitar o embargo, Ed
Kennedy telefonou para a sede da AP em Londres, ditando um artigo que, em
primeira mão, anunciava ao mundo o fim da segunda guerra mundial. A notícia
originou, naturalmente, um sem fim de edições especiais nos principais jornais
de todo o mundo. Este facto terá causado um profundo mal-estar no governo dos
Estados Unidos, que considerava que o repórter tinha desafiado a censura
militar. Foi esse facto que motivou que, meses mais tarde, a AP prescindisse dos serviços de Edward
Kennedy, a quem viria a ser retirada a sua carteira profissional.
A quase totalidade dos jornalistas e os grandes meios de
comunicação social viraram as costas a Kennedy, que daí em diante apenas pôde
trabalhar em pequenos jornais de província até morrer em 1963, atropelado por
um carro.
67 anos depois de Kennedy ter anunciado ao mundo a maior “cacha” na
história da AP (que eu servi durante
7 anos em Londres, Nova York e São Paulo, precisamente a partir de 1963),
a agência pediu publicamente desculpa a
Edward Kennedy e reconheceu que o seu despedimento fora um erro muito grave.
Agora, mais de meia centena de grandes jornalistas exige o Pulitzer para
Kennedy e que o seu nome ocupe o lugar que lhe compete na história do
jornalismo.
In
Sorumbático, 17 Dez 12
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