ALGO está a regressar à Europa, desta vez
pelo Sul. É por aqui que hoje mais se sente o regresso do fanatismo
antidemocrático como resposta à crescente pobreza, à insegurança e ao desespero
dos cidadãos.
Estamos de volta a sociedades onde reina a impunidade, onde se
afunda a economia, onde se rouba e defrauda e onde nenhum responsável pelas
ilegalidades dá a cara perante a justiça ou entra na cela duma prisão. Os
cidadãos sentem-se esquecidos e desprezados por uma classe política amestrada
pelos poderes económicos aos quais ninguém deu um voto. Partidos tradicionais
que coleccionam derrotas eleitorais sem que agora, nem no passado, tenham
preparado respostas adequadas à crise cuja chegada apressaram. Vemos assim
ressurgirem partidos populistas, em especial conotados com a extrema-direita,
que utilizam a força dos argumentos para atrair e canalizar a raiva e a
frustração de cada vez mais pessoas.
Um professor da Faculdade de Direito de Atenas escrevia há um par
de meses que a Grécia lembra excessivamente a República de Weimar. Os gregos
sentem-se castigados pelos planos de ajustamento de Bruxelas como os alemães se
sentiam naquele tempo, massacrados pelas exigências das reparações financeiras
da I Guerra Mundial que o tratado de Versalhes lhes impunha. E daquela opressão
económica nasceram as brigadas de SA, tropas de assalto formadas por jovens sem
esperança e por soldados desmobilizados e sem emprego.
Também na Grécia surgiu agora o “Amanhecer Dourado”, que se dedica
a espancar e a aterrorizar imigrantes esfomeados, anarquistas, adversários
políticos e figuras do mundo da cultura. O “Amanhecer Dourado” foi a eleições e
teve 7% dos votos das eleições de Junho. Hoje, graças aos serviços sociais que
montou para ajudar os mais pobres, obteriam facilmente 15% da votação.
Como faziam os nazis nos seus primeiros tempos no parlamento
alemão, também os deputados do “Amanhecer Dourado” impedem qualquer discussão
séria e ameaçam sem tibiezas os seus adversários políticos. Há poucos dias, uma
sede deste partido de direita foi atacado com explosivos e vive-se o receio das
consequências deste acto. As confrontações nas ruas começam a ganhar expressão
e muita gente ainda não esqueceu a pavorosa guerra civil que a Grécia viveu no
final da II Guerra Mundial. As sementes do ódio parecem germinar com mais vigor
quando se misturam com a fome e a decadência…
In Sorumbático, 14 Dez.2012
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