UM ANTIGO primeiro-ministro e um ministro actual
(ainda à hora e data em que escrevo) chamaram, pelas piores razões, as atenções
dos portugueses e da comunidade internacional para algumas universidades
portuguesas.
O curso de engenharia de Sócrates na Independente e os lapsos de
Relvas na Lusófona, além de os envergonhar pela mentira e pela falta de
preparação académica, põem em causa o prestigio e o valor das instituições,
criando suspeitas quanto à existência de outros casos ainda ignorados e
escondidos naquelas e em outras universidades portuguesas.
Abstenho-me de comentar o curso de Sócrates e não mando Relvas
estudar. Nem um nem outro têm desculpa. Mas ambos não fizeram mais do que
aproveitar as oportunidades facultadas por quem não devia sujeitar-se a
semelhante procedimento criando graves prejuízos à credibilidade do ensino
superior em Portugal sobretudo num momento em que tantos jovens se vêem forçados
a mostrar diplomas portugueses no estrangeiro onde buscam o trabalho que a
Pátria lhes recusa.
Calculo que tudo isto seja o resultado do casamento da fome com a
vontade de comer. Presumo que cada um daqueles “professores doutores” (por
extenso, se faz favor) que caiu na trampa de favorecer políticos influentes,
fê-lo para tirar benefícios para as respectivas universidades. Mas proceder
deste modo não é muito abonatório no que respeita à seriedade de processos nem
aos cuidados devidos a cada uma das instituições.
Desde há mais de 20 anos que tenho dado aulas em quatro diferentes
universidades e dois institutos superiores, nacionais e estrangeiros, nas
diferentes qualidades de professor assistente, professor auxiliar, regente de
cadeira e professor convidado.
Até hoje, não tive a mais pequena razão de queixa nem os meus
antigos e presentes alunos se podem queixar do que quer que seja. Mas imagino a
experiência dolorosa que os casos Sócrates/Relvas provocam em antigos e actuais
alunos dessas instituições. Tenho uma jovem familiar que se esforça muito para,
em 4 anos, tirar o seu diploma de medicina veterinária, o que custa à família os
olhos da cara. Está cansada das gracinhas que lhe dirigem por frequentar a
universidade das equivalências do Relvas...
A mim, há algum tempo, ofereceram gentilmente a possibilidade de me
tornar mestre ou ser doutor. Mas o meu conceito de semelhantes graus académicos
corresponde a outro grau de exigência dos que se tornaram conhecidos na
Moderna, na Independente, na Lusófona, na Autónoma e mesmo no ISCTE.
Uma tese de doutoramento exige anos de pesquisa, análise e escrita
o que é muito mais do que comprar um texto por três ou quatro mil euros
disponível na internet. Enganar quem nos emprega com uma falsa “progressão na
carreira”, tão em voga, ou trair os alunos deve ser absolutamente impensável.
Não se pode admitir que se ponham em causa milhares de
profissionais a quem se peça um “curriculum vitae”, ou se pergunte em que
faculdade andou.
Naturalmente dizer-se que se estudou em Oxford, Cambridge, Sorbonne
ou em Harvard ou Yale, é uma maneira de anunciar uma formação cívica, social e
académica em total excelência. Proclamar o curso na Moderna, Independente ou
Lusófona não deve ser um pedido de maldição.
Por estas e por outras é que não quis mestrado nem tirei
doutoramentos desses que se oferecem por aí à pressão. Fico muito contente quando
me chamam sr. Letria. Licenciados, mestres e doutores cada vez há mais .
Senhores é que cada vez há menos.
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Creio que em Portugal há excesso de universidades. Ou talvez não porque algumas não são verdadeiras universidades.
ResponderEliminarConcordo com o artigo, mas admitir que Sócrates ou Relvas se envergonhem pela mentira e pela falta de preparação académica, é dar-lhes o benefício da dúvida que, em meu entendimento, não justificam.
Nem julgo que se envergonhem com o facto de muitos se envergonharem deles.
Por isso, o mundo é deles.
Não comento o texto, com que concordo. É só para dizer do meu apreço pelo regresso.
ResponderEliminarAo R.Cunha e ao José Batista:
ResponderEliminarPara ambos a resposta é a mesma:
Grato pelas suas palavras e a amabilidade do seu comentário, j.l.