O MINISTRO Victor Gaspar disse, a quem o quis
ouvir, que a sua proposta de Orçamento de Estado não pode ser mexida. “Não há
margem”, explicou ele.”No máximo,” explicou ele”, há uma margem mínima para
correcções”.
O pessoal ficou compreensivelmente chocado. Ele atreve-se a dizer
que não podem modificar nada?! Então e o Parlamento? Os deputados representam
os papéis que lhes encomendam, mas dito assim, à frente de todos, parece muito
mal! Por que raio não conta o Parlamento numa coisa tão importante para todos
como esta, pergunto eu!?
Porque o Governo do Estado Moderno é apenas um comité de gestão de
negócios comuns de toda a classe burguesa. Na sociedade burguesa, o capital é
independente e pessoal enquanto o indivíduo que trabalha não tem independência
nem personalidade. Impedida pela necessidade de mercados sempre novos, a
burguesia invade todo o globo, necessita estabelecer-se em toda a parte,
explorar em toda a parte, criar vínculos em toda a parte.
A resultante obrigatória dessas transformações foi a centralização
política. Províncias independentes, apenas ligadas por débeis laços
federativos, possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras
diferentes foram unidas numa só nação, com um só governo, uma só lei, um só
interesse nacional de classe, uma só barreira alfandegária.
Em virtude da concorrência crescente e devido às crises comerciais
que daí resultam, os salários tornam-se cada vez mais instáveis.
O preço médio que se paga pelo trabalho por conta de outrem é um
mínimo de salário, ou seja, é a soma dos meios de subsistência necessários para
que o trabalhador viva como trabalhador.
Depois de sofrer a exploração do fabricante e de receber o seu
salário em dinheiro, o operário torna-se presa de outros membros da burguesia:
do proprietário, do retalhista, do banqueiro, etc.
As camadas inferiores da classe média de outrora, os pequenos
industriais, pequenos comerciantes e pessoas que possuem rendas, artesãos,
camponeses, caem nas fileiras do proletariado.
De que maneira consegue a burguesia vencer as crises? Por um lado
através da destruição violenta de uma grande quantidade de forças produtivas;
por outro lado pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa
dos antigos. A que leva isso? À formação de futuras crises, mais extensas e
destruidoras, e à diminuição dos meios capazes de evitá-las.
Toda a explicação utilizada para responder à pergunta que formulei
no segundo parágrafo foi escrita há 164 anos e consta do Manifesto do Partido
Comunista. É Marx e Engels sem tirar nem pôr. Quem me ajudou a encontrar esta
citação que se aplica aos nossos tempos de hoje com plena actualidade foi o
Pedro Tadeu, mas quando se lê o que os teóricos escreviam regressamos com eles
ao século XIX , muito próximo afinal, de onde nos encontramos agora.
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