quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A PALESTINA NAS NAÇÕES UNIDAS

65 ANOS depois de terem recusado a partilha que a Assembleia Geral das Nações Unidas decretou, os palestinos pediram hoje que a sua Autoridade Nacional fosse promovida de entidade observadora para “Estado observador não membro”,a mesma situação de que desfruta o Vaticano.
Os palestinos contavam com o voto favorável de cerca de 150 nações entre os 193 estados membros, maioria confortável para desespero de Israel, onde a oposição acusa o governo de isolar cada vez mais a nação. Ao contrário do Conselho de Segurança, ninguém pode vetar na Assembleia Geral a petição dos palestinos de verem o seu Estado admitido como membro de pleno direito na ONU.
Para os palestinos, que carecem de condições essenciais dum Estado, a começar pela própria soberania, esta votação é meramente simbólica. Apesar da oposição veemente do governo de Israel e do seu aliado Barack Obama, esta poderia constituir uma das últimas oportunidades para relançar um processo que alcance a paz e a segurança entre os Estados de Israel e da Palestina.
Israel teme que os palestinos possam denunciá-los, face à justiça internacional, pela violação de direitos na ocupação e em certas acções militares, além de poder ser remetida para as fronteiras de 1967, as quais hoje recusa aceitar. O presidente da autoridade palestina, Mahmud Abbas, declarou-se receptivo a negociações sem condições prévias, o que torna ainda mais condenável que o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Liebermann, tenha ameaçado derrubá-lo das suas funções perante um voto positivo, ao mesmo tempo que Obama ameaça suspender as ajudas aos palestinos, face àquilo que mais não é do que um avanço no sentido da paz no Médio Oriente.
Um dos erros que Israel cometeu foi não ter percebido que Arafat – cujo cadáver foi exumado ontem – havia sido o travão da islamização do caso da Palestina, agora representado pelo Hamas. Hoje, a demografia palestina não garante a segurança de Israel, como se viu nos últimos dias em mais esta crise com o Hamas, em Gaza. 
Bom seria que este mês de Novembro marcasse o fim do caminho de violência e morte traçado desde 1947, de modo a que a História pudesse regressar ao ponto de partida que um grave equívoco dos palestinos e do mundo árabe daquela época, mais a intransigência insuportável de Israel bloquearam por completo até aos nossos tempos.
In Sorumbático de 30 Nov 12

terça-feira, 27 de novembro de 2012

UM DIA HISTÓRICO


TERÇA-FEIRA, dia 27 de Novembro de 2012, um dia histórico: os deputados do PSD e do CDS juntaram-se e aprovaram o contrário daquilo que prometeram aos eleitores que os elegeram: não aumentarem impostos, não reduzirem salários nem confiscarem pensões.
Em campanha para as eleições, alinhados atrás deste primeiro-ministro, todos eles nos prometiam que os trabalhadores, os funcionários públicos, os pequenos empresários e os pensionistas podiam ficar descansados. Ninguém seria prejudicado, para além dum certo recato, proporcionalmente compartido, que naturalmente todos sentíamos justo que houvesse, depois do socrático regabofe socialista e do estampido dos boys & girls deles.
Afinal, hoje, trabalhar não vale a pena, os impostos levam tudo, trabalhadores, empresários e pensionistas são espoliados pelo conto do vigário de políticos que, afinal, apoiam e aprovam o saque com que este governo dá cabo dos remediados, aos quais pomposamente chamam classe média.
Este novo Orçamento é para acabar com o resto. O IVA é uma espécie de rajada que abate o consumo e afunda comércio e indústria. O IMI vai ser o golpe de misericórdia de quem julgava sobreviver. E os Boys & Girls destes juntam-se aos Boys & Girls dos outros, todos a chilrear como autênticos bandos de cucos milharucos à solta, a debicarem o que resta depois de quem sabe trabalhar ter ido para o estrangeiro, ganhar a bucha.
E pergunto eu, que não percebo destas coisas: aquele senhor que mora em Belém pensará que esta maioria de deputados não violou o mandato que o povo lhe deu e ainda tem legitimidade democrática!? É homem para pensar isso... Vai uma aposta!?
 In Sorumbático, 27 Nov 12

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

URGENTES PALIATIVOS!

HOUVE tempos, durante a ditadura, em que os jornais não podiam dar notícia de suicídios. Quando os jornalistas tentavam passar essa informação, a censura cortava. Dizia-se que era para que não se pensasse que havia gente infeliz naquele regime e com aquela vida. Mas acredito, também, que fosse para não servir de exemplo, na medida em que os suicídios, ainda hoje, parecem ser coisa contagiosa.
Para darem a entender que a morte dum fulano tinha sido consequência dum suicídio, os jornalistas escreviam, então, que o defunto tinha sido vítima dum seu “tresloucado acto”. Os psiquiatras explicavam que o conhecimento público de suicídios sugeria pessoas com angústias extremas, ou com fortes desequilíbrios mentais, que daquele modo encontravam saída para os seus problemas.
Escreveu Plínio que “entre as misérias da nossa vida, o suicídio constitui o mais apreciado dom que Deus concedeu ao homem”. Diz agora o economista francês Jean Paul Fitoussi, relativamente à crise, que “ as leis da economia são impiedosas e é preciso que nos adaptemos a elas, reduzindo as protecções de que ainda dispomos. Se vós quereis enriquecer, deveis aceitar previamente uma maior precariedade. Este é o caminho que vos levará ao futuro”.
Em meu entender, o que mais falta é a sustentabilidade moral do sistema. Portugal está atrasado a corrigir os seus condicionamentos sociais e económicos, a sua estrutura jurídica ultrapassada e anacrónica, resultado da totalmente desperdiçada década de 90. Uma das suas condicionantes negativas é sermos um país de proprietários e não de arrendatários, entre outras razões porque o mercado do crédito correspondeu à ideia patrimonial da sociedade portuguesa.
Hoje, para muitos portugueses, perder a casa é perder a identidade. Daí não termos dificuldades em entender o que levou aquela espanhola a saltar pela janela e matar-se durante a execução da acção de despejo do seu apartamento.
Por estas últimas razões, é urgente criar um paliativo a muitas situações dramáticas que a crise económico-financeira está a criar. Portugal não pode continuar, por muito mais tempo, numa textura psicológica tão tensa, tão crispada e instável como a que estamos a viver. É urgente criar válvulas de escape que aliviem a pressão que aumenta constantemente, ameaçando a ruptura completa.
 In Sorumbático, 23 Nov 12

terça-feira, 20 de novembro de 2012

AS FACTURAS DA ENERGIA…


ENTRE os meus amigos e conhecidos não sei bem aquilo que mais odeiam: se o gás, a luz ou a água. Nenhum deles põe em causa a importância destes três bens essenciais à nossa vida, está bom de ver. Aquilo de que eles se queixam e protestam é da falta de vergonha de quem administra os respectivos fornecimentos e olham estarrecidos para os valores que cada mês as correspondentes facturas lhes apresentam.
Julgo, no entanto, que o principal alvo da fúria destes consumidores é a EDP, que tem o descaramento de apresentar quase meia factura com parcelas que não correspondem a bens de consumo. Impostos, taxas, custos e SIEG, que é um vocábulo que a EDP inventou antes da chegada dos chineses para ali meter aquilo que chama de “Serviços de Interesse Económico Geral”, e que servem para encapotar actividades estranhas, designadamente as dos seus sócios das energias renováveis.
Os pobres vão ter um inverno mais frio e os mais velhos podem adoecer com mais facilidade face a este entendimento social da EDP que, por outro lado, não regateia o seu contributo para inviabilizar muitas empresas já aflitas, as quais já poderão assim fechar, lançando mais umas centenas de portugueses no desemprego.
Bons tempos, meus amigos, os do Senhor Faísca e os da Electricidade em pó…
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In Sorumbático, 20 Nov 12

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ANTES BUNGA-BUNGA DEMOCRÁTICO…

PELA quarta vez, Silvio Berlusconi foi condenado a prisão por fuga aos impostos. Quatro vezes condenado, sem nunca ter sido preso. Agora foi condenado a quatro anos de cadeia e a sentença foi logo reduzida para 12 meses, embora o antigo primeiro-ministro italiano ainda possa recorrer e ganhar o tempo que lhe for possível manter em liberdade os seus 76 anos de idade.
Somando os três mandatos, Berlusconi foi chefe do Governo de Itália durante dez anos. Actualmente, prepara-se para regressar à política e promete defrontar o homem que o substituiu depois de pressões internas e externas, alegadamente de Angela Merkel, o terem afastado do Governo que legitimamente formara, depois de legal e democraticamente ter sido eleito.
Monti, ex-comissário europeu e professor de economia, foi posto no lugar de Berlusconi sem um único voto. Tecnocrata, tem beneficiado do apoio de diversos partidos, entre os quais o de Berlusconi, que agora ameaça retirar-lhe esse apoio depois desta última condenação. Em Itália, há uma grande indignação por esta atitude do ex-primeiro ministro. Vejam lá se estes democratas estão preocupados por serem governados por um fulano que nenhum deles foi ouvido nem achado para lá pôr!
Por mim, que não sou italiano, confesso que acho graça a Berlusconi e às suas festas Bunga-bunga… a única coisa que não aprecio nele é o cabelo pintado! Mas isto sou eu, que tenho uma ideia estranha de democracia, pensando eu que quem é eleito é que deve governar... 
In Sorumbático 16 Nov 12

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

MAL ENTERRADOS

A REDUÇÃO das reformas e pensões são as piores, mais cruéis, e moralmente mais criminosas, das medidas de austeridade a que, sem culpa nem julgamento, fomos condenados pelo directório tecnocrático que governa o protectorado a que os nossos políticos reduziram Portugal.
Para os reformados e pensionistas, o ano de 2013 vai ser ainda pior do que este 2012. Os cortes vão manter-se ou crescer e, com o brutal aumento de impostos, a subida dos preços dos combustíveis, do gás e da electricidade, e o encarecimento de muitos bens essenciais, o rendimento disponível dos idosos será ainda menor.
Os aposentados são indefesos. Com a existência organizada em função dum determinado rendimento, para o qual se prepararam toda a vida, entregando ao Estado o estipulado para este fazer render e pagar-lhes agora o respectivo retorno, os reformados não têm defesa. São agora espoliados e, não tendo condições para procurar outras fontes de rendimento, apenas lhes resta, face à nova realidade que lhes criaram, não honrar os seus compromissos, passar frio, fome e acumular dívidas.
No resto da Europa, os velhos viram as suas reformas não serem atingidas e, em alguns casos, como sucedeu, por exemplo, em Espanha, serem até ligeiramente aumentadas. Portugal não é país para velhos. Os políticos devem pensar que os nossos velhos já estão mortos e que, no fim de contas, estamos todos mal enterrados...
In Sorumbático – 12 Nov 12

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

DEUS LHES PERDOE…

AS INTRIGAS evidentes nas eleições dos papas na Idade Média e no Renascimento não acabaram. Tornaram-se mais modernas. Os italianos querem regressar ao papado depois de mais de 30 anos de jejum.
É, portanto, natural que no seio da cúria exista uma luta surda, pois é esta que escolhe os papas. Ninguém chega a cardeal sem a secreta esperança de vir a ser papa. Por isso não se escolhem jovens para que não se perca a esperança. Wojtila foi excepção depois da morte inesperada de Lucianis.
Uma coisa é certa: o mordomo do papa não andou a roubar documentos para mostrar à família nem foi Nosso Senhor que lhe pediu. Está na cadeia a pagar o ter aceite servir como instrumento nas intrigas da cúria. Que Deus lhes perdoe… 
In Sorumbático, 9 de Nov.2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

NADA COMO DANTES…



O MUNDO modificou-se tanto nos últimos tempos que não é possível continuarmos a pensar como até aqui. Prever o que se vai deparar-nos pela frente também não é fácil e não nos adianta muito. Nada como dantes, o quartel-general já não é em Abrantes…
Com Obama, ou com Romney, não sabemos hoje como vão ser as coisas nos Estados Unidos da América e é difícil prever as diferenças entre os dois. Mas uma coisa é certa: sabemos que quer num caso, quer no outro, tanto ganhe um quanto ganhe o outro, os Estados Unidos vão ser muito diferentes e muito pouco terão a ver com aquilo que se lhes conheceu até agora, acelerando profundas transformações em todo o mundo.
Igualmente desconhecemos como vai ficar a Europa quando lograr libertar-se deste remoinho em que actualmente se debate e afoga. Tal como parece já ser-nos indiferente, e cada vez nos importamos menos, quanto a sabermos quem vai ganhar estas ou aquelas eleições. Os resultados vão rapidamente transformar-se em coisas do passado e nada vai ser igual para as novas gerações...
 In Sorumbático, 8 Nov.2012

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

AS PAREDES DO NOSSO DESCONTENTAMENTO


O NOSSO amigo Carlos Medina Ribeiro, a alma e a cabeça deste SORUMBÁTICO que todos nós lhe devemos, é um olissipógrafo incansável, denunciando com os seus textos e fotografias os atropelos que Lisboa sofre, todos os dias, com maior ou menor arte. Nas suas fotos e em muitas das suas queixas figuram os graffiti, obscenos e sem sentido, quase todos eles. Simples porcaria urbana.
Devo confessar que aprecio os verdadeiros artistas do graffiti e algumas das suas obras. Conheço, aliás, cidades onde lhes é dado espaço em zonas decadentes onde muitos inscrevem nas paredes verdadeiras obras-primas. Eu próprio gostaria de um dia ter uma casa, um edifício, um armazém, onde uma equipa desses talentosos artistas se pudesse exprimir livremente e com bom gosto. Madrid e Barcelona souberam aproveitá-los…
Agora, até um vereador da Câmara de Lisboa promete bater-se contra os graffiti.Vamos esperar para ver... Sem dúvida que exercida assim, clandestinamente, a inscrição em paredes não é nenhuma arte, é porcaria urbana que desfeiam casas, cobrem muros, sujam monumentos, estragam estátuas e emporcalham comboios, constituindo atentados contra a propriedade alheia. Geralmente, os seus autores permanecem impunes e os graffiti custam muito dinheiro a limpar.
Resta saber se há meios para impedir a prática de tais crimes e se depois do trabalho dos esforçados agentes policiais os tribunais não se ocupam a reenviá-los para a rua, como sucede com frequência entre nós, com autores de infracções bem mais graves.
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 In Sorumbático, 31 Outubro 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A FÉ QUE NOS ABANDONA



PORTUGAL está a perder fé no europeísmo. Compreende-se! Foi longa e acidentada a viagem desde a “Europa Connosco”, os sorrisos do “mon ami Mitterrand”, os gritos do Kreisky no Porto, os berros do Felipe Gonzalez em Campo Maior e o punho de ferro do Helmut  Schmidt no Largo do Rato, passando pelo Fundo Social Europeu, até  chegarmos  a este beijo da morte da troika. 
Mas se em 1985, um ano antes do Dr. Soares assinar os papéis nos Jerónimos, só 24 por cento dos portugueses acreditavam na Europa comunitária e queriam entrar para o clube, verdade se diga que em 1987, um ano depois de estarmos a pagar quotas, 70 por cento dos Portugueses já eram a favor da UE e pensavam e sentiam que estava a ser muito bom para nós estarmos ali aninhados, a receber cada vez mais e a fazer cada vez menos.
Segundo os últimos inquéritos e estudos de hoje, no presente, só 40 por cento dos Portugueses são a favor de continuarmos comunitariamente europeus. O que é pouco, se pensarmos que estamos ao mesmo nível das repúblicas bálticas, que sempre viram na Europa Comunitária um desígnio instrumental, e muito pouco, se nos recordarmos que o presidente da Comissão Europeia é Português e até já foi nosso Primeiro-Ministro.
In Sorumbático, 6 Novembro 2012

sábado, 3 de novembro de 2012

ESCUSAMOS DE FICAR DESCANSADOS


A GENTE com amigos destes não precisa de inimigos!
Vêm os queridos do Governo e sacam-nos ainda mais do que a troika quer, atirando-nos para um  lixo mais velho e mais mal cheiroso do que aquele onde as agências de notação nos puseram,  e do qual ainda não nos limpámos. Os velhos descobrem que vivem anos a mais, os jovens percebem que vão ter anos a menos, e tudo e todos pagam imposto.
Mas se há uns quantos que se safam dos impostos, ou têm meios para os pagar, logo chega o Dr. Sobrinho Simões e garante a todos que, ele seja ceguinho, se daqui a dez anos, um em cada dois portugueses  não vai ter cancro. Só não explicou se o cancro é para aquele que não aguenta os impostos, ou é castigo para o que pode; também não esclareceu se os reformados e desempregados ficam isentos de impostos ou vêem ser-lhe aumentada a taxa moderadora.
Por fim,  salta-nos ao caminho  o coronel Vasco Lourenço e promete, não faço ideia a propósito de quê: uma nova ditadura  está a caminho de Portugal e, na Europa, a guerra é inevitável!
Adoro estes fregueses das bolas de cristal. Não perdem tempo com ninharias tipo saímos ou não saímos do Euro, ou vamos, ou não, seguir o destino da Grécia. É logo de descasca pessegueiro, para não termos tempo de nos animar! Escusamos de ficar descansados… Compreende-se: se não for assim, não há jornal nem televisão que lhes pegue!
In Sorumbático, Nov.2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A EUROPA UNIDA JAMAIS SERÁ VENCIDA…



PARA OS FILHOS da Flandres, a Bélgica é uma invenção despropositada e opressiva que obriga seis milhões de flamengos a trabalharem para pagar a improdutividade de 5 milhões de valões do Sul do País. Uns falam neerlandês, os outros falam francês, são todos católicos e têm o mesmo rei. Os flamengos gostavam de se verem livres dos valões e deste País inventado pelos britânicos, depois das guerras com Napoleão, para servir de amortecedor a possíveis futuros invasores. Mas o franco belga desapareceu e a manterem a Bélgica restam o rei e Bruxelas, que ainda ninguém teve coragem de dividir ao meio, repartindo a UE, a NATO e as outras organizações internacionais que ali têm sede, deixando uma corte francófona paredes meias com a sede duma nova República neerlandesa, uma dum lado, a outra do outro. 
Muitos italianos do Norte também adorariam separar-se do resto do País, libertarem-se da Itália do Sul, deixarem para lá o “mezzo giorno” pobre, pouco trabalhador e não muito produtivo, entregue ao crime organizado que tanto os envergonha. A Liga do Norte, partido que até já esteve no Poder e participou em Governos de Roma, sonha com a independência do que chamam Padânia, esse novo País sonhado para o Norte da Itália.
Os corsos almejam a independência da sua Córsega do resto da França e não desarmam as suas pretensões separatistas. O País Basco aspira à independência, quer do reino de Espanha, quer de parte do Sul da França, enquanto também a Catalunha deseja igualmente a sua independência de Madrid, ainda que duma forma mais suave do que os Bascos mas muito mais interesseira.
Em 2014, a Escócia vai dizer-nos através dum referendo se quer a independência do Reino Unido, apesar de gozar de ampla autonomia e se governar por meio dum criativo e independente parlamento que lhe fiscaliza o executivo e dita as suas leis.
Ainda há muito pouco tempo assistimos à explosão da antiga Jugoslávia, pulverizada em diversas repúblicas, e vimos também a implosão da Checoslováquia, que se rasgou em duas, enquanto as antigas repúblicas soviéticas também davam o seu grito do Ipiranga, embora algumas delas ainda mantenham situações territoriais e étnicas mal resolvidas.
É desta Europa que os burocratas que governam muito deste continente reclamam solidariedade, não se percebe bem nem como nem porquê. A nós, desde que nos gritaram “A Europa Connosco”, nunca ninguém explicou porque razões a Europa não tem uma política externa comum e umas forças armadas sob o mesmo comando. Assim como também se têm esquecido de apontar a nossa superioridade: país continental uno e indivisível, uma só língua (ainda que cada vez mais maltratada) e 900 anos de História (também cada vez mais esquecida).
Pois é! A Europa é tudo aquilo que cumpro o ingrato dever de aqui recordar. Não nos embalem agora na canção de “a Europa Unida jamais será vencida”, depois de estarmos todos a perceber que também é mentira o que nos disseram da ”Europa estar connosco”.
Mais Alentejo, Outubro 2012

DESPERDÍCIOS

HOUVE um curto período da nossa vida económica que até nos servíamos de imigrantes, gente do leste com educação superior, nuns casos, africanos ilegais, sem papéis, brasileiros às carradas, todos eles  desejosos e necessitados de uma vida melhor.
 Mas foi sol de pouca dura, depressa voltámos onde estamos hoje e donde vínhamos ontem, regressando à nossa natureza de País de emigrantes, com mais de quatro milhões de compatriotas nossos espalhados pelo mundo a mandarem remessas com as suas poupanças que ninguém lhes agradece.
No Século XIX, os portugueses emigravam sobretudo para o Brasil. Foi, de resto, a quebra do câmbio da moeda brasileira que muito contribuiu para a bancarrota do Estado português em 1891, tanto era o dinheiro que os nossos patrícios de lá enviavam e que deixou de ter valor. Depois dessa dificuldade, muitas cartas de chamada ajudaram muitos outros portugueses a emigrar para a Venezuela, Angola, Moçambique, África do Sul, Havai e Estados Unidos,  e mais onde quer que fosse que um homem se pudesse valer e desenrascar.
Nos anos 60 do século XX empestámos a França e a Alemanha com cerca de dois milhões de portugueses que haveriam de construir as modernas cidades da Europa e trabalhar nas suas fábricas. As portuguesas eram, sobretudo, porteiras e mulheres de limpeza. Mas cá, nesses tempos, a pobreza era tal, que qualquer trabalho lá fora valia a pena, para educar os filhos, viver   aceitavelmente e ainda mandar o dinheiro para cá, para construir uma casa de família.
Agora voltámos a exportar portugueses carenciados. A diferença é que juntamente com a mão de obra indiferenciada que sempre mandámos embora, vão também jovens educados que em Portugal não encontram trabalho para as suas qualificações. Gente boa, bem preparada, com habilitações proporcionadas por Portugal, que assim perde o seu valor, transformando-os em mais desperdícios. Esperemos que por pouco tempo, pois Portugal precisa deles e continua um belo sítio para se construir um País.
In Sorumbático