sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

CUIDADO, QUE NEM OS VÍGAROS

HOUVE um secretário de Estado que anunciou ao País que, em grande maioria, tinham surgido investidores estrangeiros a comprarem acções dos CTT, na privatização dos nossos Correios. Coitado do homem, que se enganou, com certeza, ou foi levado ao engano, pois não é de crer que seja mentiroso a tal ponto. Soube-se que, no fim de contas, mais de 90 por cento das acções dos CTT foram compradas naquele mesmo dia por bancos portugueses e por ordem do Governo, directriz ordenada através das Finanças.
É por estas e por outras que as agências de notação, mais os nossos credores e a banca internacional, vêem Portugal com desconfiança, e franzem o sobrolho quando ouvem falar do nosso país. Trazer polacos de origem colombiana, naturalizados bolivianos com documentos e negócios no Brasil a ver se nos compram as nossas melhores companhias dá tão mau aspecto que também não chega ser emigrante lusitano, a dar ao pedal 12 horas por dia para reganhar a seriedade perdida.
Por estas e por outras é que os chineses já nos dão berros quando queremos mudar regras de compras efectuadas há pouco tempo. Tenham cuidado, meninos! Olhem que até os aldrúbias só mentem uma vez….

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Burros e a recebermos o que nos dão…

O PRIMEIRO-MINISTRO belga, di Rupio, é um amor! Foi denunciar aos europeus que a Bélgica está cheia de portugueses a cobrarem 2,04 euros por cada hora de trabalho, o que concorreria deslealmente com os salários que na Bélgica se pagam aos trabalhadores. Assim, não haveria maneira de competir com gente a cobrar tão pouco como os portugueses a trabalharem na Bélgica
O chefe do Governo belga ignora que os Portugueses ganham, à força do seu trabalho e na sua Pátria e em média, aquilo de que ele se queixa dos desamparados imigrantes portugueses aceitarem. É questão de fazer contas: 2,04 euros à hora, faz 16,32 euros por dia de 8 horas de trabalho.16,32 euros vezes 22 dias úteis de trabalho (se for só assim) dá o total de cerca de 400 euros que cada português ganha enquanto mostra o seu agradecimento por não ser despedido pelo Governo em vergonhosas negociatas semelhantes àquela que ditou o fecho dos estaleiros de Viana.
Não pode ir a Bruxelas um “especialista” deste prestigiado Governo, “boy” recém-admitido, explicar aos belgas por que razão os americanos comparam os portugueses aos burros de Miranda?! E, já agora, poderia o ilustre assessor dar a volta por Washington para agradecer aos ianques escreverem sobre o povo português como se fosse uma nação de burros, destacando-os em um quinto, ao alto, da primeira página da sua edição internacional?

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Eu seja ceguinho!



NUNCA houve nada escrito por mim que fosse tão lido como uma prosa que na net me atribuem e que eu nunca escrevi. É verdade! Não é que me preocupe, pois aumenta-me a popularidade (nem imaginam!) e hoje, com os servidores e motores de busca é não só fácil provar que se não é autor daquilo que querem à força dizer erroneamente que é nosso, como não é difícil chegar-se à verdadeira autoria da vilania.
De resto, os meus textos são facilmente identificáveis: se são verdadeiros, passaram pelo “Sorumbático” e pelo “Mosca Varejeira” e receberam o imprimatur do meu querido amigo Carlos Medina Ribeiro. São falsos, nunca nenhum de nós os viu, ficamos de cara à banda e rimo-nos muito no fim, o que se há-de fazer!? Pois se até inventam comunicados falsos ao ministro da saúde, porque não hão-de inventar crónicas mentirosas para alguns de nós?! Não me digam que esta última também veio da Polónia ou da Hungria…
Entre 2008 e 2012, em Espanha, foram despedidos 10 mil jornalistas e 70 órgãos de comunicação social desapareceram. Só no ano passado, mais 4800 jornalistas foram dar banho ao cão. A Federação dos Jornalistas de Espanha acredita estar ainda a tempo de “proteger os direitos dos jornalistas e dignificar a profissão”. Recusa-se a aceitar que está atrasada.
Entretanto, não é natural que, com tanta gente a perder o emprego, também nos “media” e  produtoras de rádio e TV portuguesas, se intensifique esta estranha produção de textos de geração espontânea , uns que dizem que são meus, outros que juram a pés juntos serem da Clara Ferreira Alves, ou do Nicolau Santos. Mas não são. Nem de uns, nem de outros. Basta conhecer as respectivas prosas para se saber. Eu por mim, juro! Eu seja ceguinho! E muito obrigado pela preferência…
In Sorumbático, 19 Abril, 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Quem será mais louco?

O SENADOR McCain, antigo candidato à presidência dos Estados Unidos, chamou psicopata ao actual líder da Coreia do Norte e disse que já o pai era doido e o avô era maluco.
Não sei se o senador se baseava em algum relatório genético e em regras de hereditariedade para insultar tês gerações de grandes líderes e acabar na ofensa ao Kim Il Sung. Mas que queria ofender um dirigente político de uma nação soberana e, pelo caminho, vilipendiar todo um povo patriótico, não restam dúvidas a ninguém.
Os americanos parecem não ter os cinco alqueires bem medidos. Assim se afigura, ao pensarmos que diante dum jovem dirigente, inexperiente e instável, dependendo das velhas hierarquias, se comportam deste modo e é com este folclore ofensivo que acompanham provocadoras manobras militares. E nestas não incluo os exercícios militares junto à fronteira do Norte, envolvendo milhares de soldados, grandes baterias de artilharia pesada, bombardeiros “stealth” e dezenas de navios de guerra. 
De cada vez que vou a Seoul, e fico no Hilton, a sala de pequenos almoços do hotel parece a messe dos oficiais americanos, todos de camuflado e com ar de quem já está atrasado para chegar à guerra. Não fora a discreta presença dos russos e japoneses, a autoridade dos chineses e o bom senso de Seoul, daquele clima paranóico já tinha saído asneira da grossa a norte do Paralelo 38.
Um presidente americano inteligente, racional e equilibrado entenderia que se está no momento exacto de suspender estes jogos de guerra, inequivocamente. É verdade que ao longo de gerações e após a brutal guerra da Coreia, que todo aquele povo sofreu, a guerra psicológica dos americanos, a qual nunca abrandou, pode bem criar um caso de demência colectiva. Mas a comportarem-se assim, contra uma nação que dispõe de armamento nuclear e mísseis capazes de transportar ogivas, sob a direcção política que se conhece, não sei quem será mais louco. Se PyongYang, se Washington
In Sorumbático, 17 Abril2013
 

domingo, 14 de abril de 2013

Confiança garantida

TENHO um amigo que vive no prédio dum importante ministro. Todos os dias, pelas 7 da manhã, o meu amigo quando sai para passear o cão encontra no elevador a mulher do ministro, que vai correr. Todos eles figuras públicas e conhecidos de longa data, cumprimentam-se amistosamente. Mas o meu amigo não resiste a contar-me o que a mulher do ministro responde à sua pergunta de “então, vocês estão bem?”
Com um sorriso bem disposto e com a voz firme de quem sabe do que está a falar, a senhora responde invariavelmente: 
“Então não havíamos de estar! Claro que estamos bem, a afundar-nos alegremente”! O meu amigo distrai-se com o cão e a senhora põe os auscultadores antes de começar o seu “jogging”.
Mas quando o meu amigo regressa para tomar banho, ou almoça comigo, não resiste a rebobinar e a pensar que se um ministro essencial como aquele acha que o país se está a afundar todos os dias, é porque isso é mesmo verdade.
Quando o meu amigo me contou a história pela primeira vez, num tom de grande segredo, eu pensei que a senhora era uma irresponsável e que o marido não seria melhor. Mas agora, depois de ler que Christine Lagarde, directora do FMI, disse que até ao fim do ano haverá bancos que vão fechar em Portugal, penso que estão todos bem uns para os outros e que nós é que estamos entregues aos bichos, com gente desta a dar-nos confiança garantida na competência de quem nos governa e no futuro que nos vai acolher. 
In Sorumbático, 15 de Abril2013

sexta-feira, 12 de abril de 2013

E se Obama fosse antes ao cinema!?

QUANDO li a frase de Obama, achei aquilo que ele disse um exagero. Mas como gosto muito da senhora, fiquei todo contente, e elogiei o discurso presidencial tanto como aquele que lhe escreveram para ele dizer no Egipto há uns anos, que toda a gente gostou muito, eu incluído. 
Demorei algum tempo a perceber que quando Obama disse, desta vez, que “O MUNDO PERDEU UMA DAS GRANDES ADVOGADAS DA LIBERDADE”, não se estava a referir à minha querida Sarita Montiel, mas a Margareth Thatcher, morta no mesmo dia, deixando entre os órfãos, pelos vistos, o “Tory” Blair e o Barack Obama, a par do Gorbatchev e do Lech Walesa.
Tenho amigos em Londres que sofreram com a morte da rainha do Alzheimer, porque são conservadores e admiram aquela que foi a primeira mulher a chefiar um governo no Reino Unido, o que eu respeito. Mas também tenho amigos que foram a Brixton, às festas de alegria com que se comemorou na Grã-Bretanha o desaparecimento da “Bruxa”. Gosto da sinceridade e recusa de hipocrisia, também como foram as festas dos mineiros do Norte, a quem a baronesa tanto prejudicou, como por certo na Argentina se terá festejado o desaparecimento da madrasta das Malvinas. 
Eu, por mim, marimbo-me na baronesa, um Gaspar de saias e com substância que desgraçou milhões na Grã Bretanha e lançou a Europa nesta crise do capitalismo em que ainda estrebuchamos e recolho-me ao meu luto pela Sarita, a rainha do “couplé”, a madrilena de olhos ardentes e voz quente que nos anos 50-60 provocava erecções aos jovens da minha geração a cantar “besame, besame mucho”.
Sarita fez mais de 50 filmes. Tornou-se mundialmente famosa com Vera Cruz e filmou com Gary Cooper, Burt Lancaster e outras grandes vedetas. Estreara-se em 1944,em “Te quiero para mi” e até 1974 rodou meia centena de filmes, ainda que sempre entregue à música e sempre inebriante com as suas canções sensuais, como em “Violetera” e muitas outras películas que em Portugal provocavam enchentes durante meses, em grandes salas de cinema como “Eden”, “Condes” e “Odeon”, hoje todas elas desaparecidas.
Casada quatro vezes, senhora de grande beleza voluptuosa e não escondendo uma grande sensualidade, Sara Montiel foi uma advogada da liberdade maior que a baronesa que foi amiga do ditador Pinochet. 
O ministro espanhol da Cultura,José Ignacio Wert,disse que Sarita era “um ícone do cinema espanhol e ibero-americano, capaz de encher o grande écran como ninguém”. Estou plenamente de acordo, e ainda acho que Sarita não encheu as ruas de Londres de sem-abrigo nem prejudicou ninguém, como a Thatcher. Talvez o ministro Wert possa mandar dois DVDs ao Obama… um sobre uma e outro acerca da outra… 
In Sorumbático, 12 de Abril 2013

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Espanha sem trunfos e rei fora do baralho

A POPULARIDADE do rei de Espanha, Juan Carlos, está em queda livre, principalmente junto dos jovens, em consequência de diversos escândalos, em particular daquele que envolve corrupção e que faz estremecer as fundações da monarquia espanhola, ainda que o príncipe Felipe pareça estar a ser poupado - revelou uma sondagem realizada nos últimos dias e publicada no passado domingo.
A sondagem, no entanto, foi realizada antes dum juiz de instrução ter indiciado a infanta Cristina, segunda filha do rei, no caso de corrupção que tem como principal protagonista o seu marido, Iñaki Urdangarin. 53 % dos interrogados na sondagem manifestaram-se contra o modo como o rei exerce as suas funções e apenas 42 % estão a favor. O príncipe das Astúrias, Felipe, de 45 anos de idade, recebeu pareceres favoráveis de 61 % dos inquiridos. 
A queda de popularidade do rei é particularmente acentuada na faixa etária dos mais jovens, dos 18 aos 34 anos, cujos votos desfavoráveis são 41% mais numerosos do que os favoráveis. Designado por Franco como seu herdeiro político, Juan Carlos foi entronizado dois dias depois da morte do ditador e conduziu, com sucesso, a transição política pacífica da Espanha da ditadura para a democracia. Esta página da História parece ser ignorada pelos eleitores mais jovens.
A imagem do rei Juan Carlos começou a degradar-se aceleradamente na primavera de 2012,após o monarca ter participado numa caçada aos elefantes no Botswana, que fez com que ele tivesse de apresentar um pedido público de desculpas à nação depois de chocar a Espanha, minada pela grave crise económica e com uma percentagem de desemprego da ordem dos 26%. 
O inquérito judicial que visa Iñaki Urdangarin, marido da princesa Cristina suspeito de ter desviado milhões de euros de dinheiro público e a indiciação da princesa nesse mesmo processo, mergulhou a monarquia espanhola numa crise sem precedentes e fez crescer rumores sobre a possibilidade do rei abdicar em favor de seu filho. 
Esta sondagem, conhecida no início desta semana, revela aquilo que os espanhóis pensam e foi realizada no curso do mês de Março, auscultando as opiniões de 2400 inquiridos que permitiram concluir pelo desprezo geral dos espanhóis pelo conjunto das suas instituições. Aos escândalos da família real, juntam-se diferentes casos de corrupção que desacreditam a generalidade do mundo político.
91 % dos inquiridos desaprovam a actividade dos partidos políticos e apenas 7% aprovam a forma dos partidos assumirem o seu papel na vida nacional. Somente 19% se manifestou favorável ao governo do PP liderado por Mariano Rajoy. Uma sondagem paralela a esta publicada pelo diário “El País” mostra que os dois grandes partidos da Espanha, o Partido Popular (P.P.) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), juntos, não atingem um total de 50% da intenção de votos. O PP, vencedor das eleições de Novembro de 2011 com uma maioria esmagadora, receberia apenas 24,5% dos votos e os socialistas 23%, se as eleições fossem agora. 
Com a Espanha a destrunfar e o rei fora do baralho, o futuro depois da crise será ainda mais difícil para todos os povos ibéricos, quer sejam hoje parte integrante de Castela, ou simples vizinhos, como nós. 
(In Sorumbático, 10 Abril 2013)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Esta vida são dois dias


DEVEMOS diminuir o tempo que gastamos com as nossas preocupações. Que bom que seria se nós, que entrámos num período com menos tempo para viver, pudéssemos recuperar todo o tempo que gastámos a preocupar-nos com as nossas vidas. Podíamos então prometer que, daqui para a frente, passaríamos a gastar o mesmo tempo a pensarmos naquilo que vamos fazer no futuro.
As preocupações são uma tremenda perda dum precioso e limitado tempo de vida. Temos de aprender a reduzir as nossas preocupações ao mínimo, ou mesmo eliminá-las o mais possível, de molde a podermos dispor do máximo de tempo para o dedicar a construir a nossa felicidade.
As preocupações são uma barreira, quase intransponível, para impedir o acesso à alegria, à satisfação e ao contentamento. 
Convençam-se que preocupar-nos não ajuda a resolver o que quer que seja. Quando se convencerem de que preocupar-nos não resolve praticamente nada, vamos sentir uma liberdade e um alívio difícil de descrever. Virem as costas às vossas preocupações e virem-se para aquilo e aqueles de quem mais gostam e que vos dá maior prazer. 
Os velhos são vistos por muita gente como fontes de aborrecidas preocupações. Quem combateu, ou teve familiares em qualquer guerra, é natural que se preocupe mais com a política e com os negócios estrangeiros, assim como quem viveu os anos difíceis da II Guerra Mundial, com racionamentos e restrições, estimulará preocupações financeiras, apagará as luzes quando não são necessárias, gastará menos água e aproveitará melhor o que sobra das refeições. Mas nada disto está mal. O mal é estragar a nossa vida quotidiana e não pensarmos noutra coisa que não sejam desgraças. Porquê preocupar-nos em excesso? É esse excesso de ralações que nos envenena o presente e nos faz perder dias, meses e anos que não recuperaremos mais. 
Todos nós sabemos que esta vida são dois dias. Demasiado curta para nos preocuparmos com o que vai acontecer ou, até, poderá nunca suceder. 
Um bom conselho é nós concentrarmo-nos no presente, focar-nos no dia de hoje e deixarmos de nos torturar com aquilo que, muitas vezes, só existe, acontece ou pode acontecer nas nossas cabeças. Devemos também lembrar-nos e pensarmos no efeito do tempo. O que for, soará – como diziam os nossos mais velhos - e o que soará, logo se verá! Parem e pensem que ralarem-se em excesso só vos faz mal. Ocupem as vossas cabeças com uma coisa de cada vez, se possível. 
Um velho conselho, que nos foi dado há milhares de anos, foi “CARPE DIEM”. Esta expressão, em latim, significa “AGARREM O DIA!”. E ainda hoje esta é uma recomendação certa e actual que nos chega da nossa cultura greco-romana. Pense no futuro, para estar preparado com o que vai acontecer e planear o que vai fazer, mas depois concentre-se no presente e desfrute e governe cada dia que passa, em vez de se mortificar com preocupações de coisas que não sabemos como vão suceder nem, sequer, se realmente acontecem. Por isso mesmo, o mais importante é o dia presente. 
Planifique o futuro, prepare-se para o que certamente vai acontecer, resolva os problemas com cabeça, pense, não perca tempo e divirta-se! Se tem medo de alguma coisa, identifique e isole esse problema. Estes são receios e apreensões legítimas! Se pensar como vai enfrentar essa questão, e estiver preparado, diminui muito as suas preocupações. 
Aceite as coisas que acontecem e que já não pode evitar. Perdoe e contenha-se perante pessoas de quem não gosta e dificilmente pode suportar. Mas não tenha essa aceitação duma forma passiva. Pense como reagir ou comportar-se perante alguém ou numa nova realidade, conforme aos seus interesses e às suas conveniências. Mas encare o futuro com outra frase que também ela nos diz tudo:” O QUE FOR, SERÁ”! E conte até 10 antes de se manifestar... O receio e as preocupações são endémicas e naturais ao dia-a-dia moderno dos seres humanos. Os mais velhos de nós, naturalmente que pela sua experiência e pelo seu conhecimento, sabem e podem não só dar estes conselhos, mas também segui-los, enquanto os mais jovens acharão difícil fazê-lo. Mas é natural que assim seja, pois é a muita experiência e o muito tempo de vida que o determinam. O Diabo sabe muito não por ser o Diabo, mas por ser velho. 
Os cientistas e os médicos que estudam estas coisas e se preocupam com o que vai nas nossas cabeças sabem uma coisa muito importante: elas ocupam e mortificam mais aqueles que pouco têm que os ocupe, ou mesmo nada com que se preocupar. 
Ruminarmos acerca de coisas más que nos podem acontecer, ou aos nossos entes queridos, é completamente diferente de ter questões reais e concretas para resolver. Quando assim fazemos, estamos a defender-nos e aos nossos, em vez de estarmos a cansar-nos e a torturar-nos, gastando os nossos recursos de conhecimento num sentido errado, sem nada de concreto para além de situações possíveis ou inverosímeis. 
Uma estratégia importante para reduzir as nossas preocupações é aumentar o tempo gasto com questões e problemas concretos, resolvendo-os, ou ajudando a resolvê-los, e eliminando, ou diminuindo drasticamente, o tempo de imaginarmos ou criarmos preocupações.
Tal como nos cuidados a ter com o corpo, fazendo exercício sempre que possível, também é desejável ocuparmos o nosso tempo e as nossas cabeças com actividade real, que não nos mortifique nem nos faça perder um tempo precioso desta nossa curta passagem pela Terra, sempre tendo em mente que esta vida são dois dias. 
In Sorumbático, 8 Abr 13

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Pensem um bocadinho…

TEMOS provas de sobejo da incompetência dos políticos europeus de hoje. Cada cavadela, cada minhoca. Daí não parecer mal se não os deixarmos esquecerem-se da importância geo-estratégica de Chipre, ultimamente por eles tão maltratada, a ponto de haver muitas interrogações e algumas dúvidas pertinentes. 
Quanto maior for o desespero dos cipriotas e menor e mais arrogante for a ajuda dos Governos europeus, mais elevada é a probabilidade de Chipre procurar apoio na Rússia. Obviamente que essa ajuda não será incondicional. Em troca dela, compreensivelmente Moscovo procurará obter as maiores e mais duráveis garantias. 
Os depósitos dos indivíduos e das empresas da Rússia, feitos sem qualquer controle, permitiram a expansão dos bancos cipriotas. O turismo russo é uma notável fonte de rendimento para aquela ilha mediterrânica. Por outro lado, os russos já estabeleceram consideráveis interesses nos mal explorados campos de gás cipriotas. 
Uma maior importância da Rússia em Chipre compensaria Moscovo duma eventual perda de influência na Síria, outro dos pontos de acesso ao Mediterrâneo. Por outro lado, o seu maior envolvimento na exploração do gás natural permitiria a Moscovo reforços significativos no fornecimento de energia à Europa Ocidental, além de inegáveis ganhos para as reservas financeiras internacionais da Rússia. 
Ao fazer estas contas, os Europeus, se tiverem quem lhes sopre aos ouvidos, poderão recordar-se da História do Século XX e lembrar-se do que aconteceu quando, na década de 50, a Europa recusou ao Cairo a ajuda para a construção da barragem de Assuan e um melhor aproveitamento do Nilo. O que os europeus então conseguiram foi submeter o Egipto a mais de 20 anos de influência soviética, alterando a geo-política da região. 
A Europa tem interesse em ajudar Chipre a estabilizar a sua situação e em evitar que a simpática ilha mediterrânica dê cabo do que resta da eurozona e ajude a escaqueirar o euro. Os burocratas de Bruxelas e de Berlim, e os seus serventuários, que pensem um bocadinho. Também lhes pagam para isso...
In Sorumbático, 5 Abril 2013

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Brigada da Moral

AQUILO que cada um faz no seu quarto, se as mulheres devem, ou não, serem donas dos seus corpos e se pessoas do mesmo sexo podem, ou não, casar-se umas com as outras anda por aí nas bocas do mundo. Mas aquilo que os poderosos fazem nos gabinetes com as vidas dos outros não parece preocupar ninguém.
A brigada da moral, a par dos sobressaltos de que dão sinais, conseguiu pôr a economia de joelhos, roubando poupanças de milhões de cidadãos e sujeitando os restantes ao desemprego e à incerteza. Mas pior que tudo é a impunidade, o que os estimula a terem-no feito em 2008 e voltarem a fazê-lo agora.
Mas estes poderosos grupos que tomaram conta do nosso planeta não deixam as coisas ao acaso. Matam onde lhes dá lucro matar e, paulatinamente, preparam o futuro. Note-se, a título de exemplo, que só nos Estados Unidos da América, os Republicanos e os Democratas gastaram em 2012 um record de 12 mil milhões de dólares em campanhas eleitorais, que lhes permitiram estabelecer as pontes e conquistar os testas de ferro que vão manobrar a partir de 2014. Óptimo proveito do resultado do Supremo Tribunal de Justiça ter aberto as comportas da política ao grande capital, ao decidir que sob a Primeira Emenda as grandes companhias são “pessoas”. 
Também o JPMorgan-Chase, o maior banco da América, está em melhor forma do que nunca, liderando a luta contra a lei (Dodd-Frank) que poderia impedir novo “crash” e os resgates da banca à custa dos contribuintes. O mesmo JPMorgan-Chase, o maior banco da América que terá enganado os accionistas e o público na famosa “Baleia de Londres” a qual ditou 6 biliões de euros de perdas, em 2012. 
A Brigada da Moral não quer que as mulheres mandem nos seus corpos nem que pessoas do mesmo sexo se casem entre si. Mas não se importam nem um bocadinho que os multibilionários escaqueirem os direitos dos outros e destruam a democracia desde que isso lhes renda o que eles desejam. 
In Sorumbático, 3 Abril 2012

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A confiança é que está em falta

NAS ACTIVIDADES financeira e económica há um elemento essencial: a confiança. Natural e próprio de quem tem de confiar, muitas vezes, o valor do trabalho duma vida e o futuro de seus filhos a terceiros que não precisariam de ser mais do que pessoas estranhas. 
O resgate a Chipre, as patacoadas do presidente do Eurogrupo, as argoladas do sr. Hollande, as birras do mister Cameron e a insensibilidade da sra. Merkel, a matreirice do BCE, a impreparação do novo FMI, tudo isto aliado às novas e desconhecidas colheitas de banqueiros e bancários, fez perder o mínimo necessário de confiança no sistema.
A estas questões reais podemos juntar a incompetência dos técnicos e a irresponsabilidade dos políticos: ninguém pode hoje confiar em ninguém, sujeitos como estamos ao “vale tudo” e à “banha da cobra” que nos impingem a todo o momento.
Chipre veio recordar-nos e deixar bem presente a incerteza do euro. A moeda única não parece justificar a enganadora solidez com que se apresenta a todos os que a vêem como uma alternativa credível ao dólar e a outras moedas europeias que persistem. 
A banca, instituição outrora confiável, está hoje assaltada por duvidosos desconhecidos, delegados dos partidos, comandada por marqueteiros de pacotilha em quem muito dificilmente se pode confiar. A “União monetária” também já foi chão que deu uva. Hoje, o euro parece mais sólido na Alemanha e na Holanda do que em Portugal ou na Itália, tal como ali os depósitos se perfilam mais seguros do que aqui.
A verdade é que muitos já não confiam as suas economias à banca e alguns também já não dormem descansados com o dinheiro no colchão, receosos das manigâncias e do terrorismo fiscal. É uma pena ter passado a haver tão pouca gente em quem se possa confiar... 
In Sorumbático, 1 Abril 2013

sexta-feira, 29 de março de 2013

Exportamos rubros tomates e produzimos menos lixo



ALGUNS leitores mais atentos notaram já, acertadamente, que esta semana inaugurei nestas crónicas um novo ciclo: o de elogiar a crise, o desemprego, a pobreza e as dificuldades, embora não tenha ganho ainda balanço suficiente para conseguir dizer bem do Governo.
Não ter carro, não ter casa e não ter trabalho, - dizia eu  ironicamente, está bom de ver – tem o seu encanto, pelo que nos liberta de IMI e de rendas,  de preços de gasóleo e de super, de chefes, patrões, horários e  colegas. Ser pobrezinho parece ser um descanso, não se pensa em Chipre não se sonha com a Merkel, quer-se lá saber do Obama!
Eis, então, o meu contentamento posterior a essa crónica ao encontrar novos factos que parecem louvar a crise e as dificuldades a que os portugueses estão entregues. Noto, em primeiro lugar, o êxito que é para as nossas Relações Exteriores o nosso bem-amado ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, ir ao Japão acompanhado por nove fábricas de transformação de tomate e mais outras seis empresas desse sector. Os nipónicos nunca tinham vista nada assim!
Paulo Portas não leva pasteis de nata nem rissóis de camarão consigo, mas não se esquece do rubro tomate lusitano, sector que já consegue pôr no estrangeiro 10 % da sua produção, esforço de assinalar que, por certo, encherá de orgulho a centrista ministra Assunção Cristas, que tanto se esforça por fazer render a agricultura.
Mas a crise não se fica por aqui em boas notícias. Vejam só que a produção do lixo urbano caiu em 2012 para os níveis mais baixos desta década. Dentro de dois anos, em consequência da diminuição do consumo e da produção industrial, o lixo urbano em Portugal deverá cair ainda, antes de 2015, para menos de 12%! Ou seja, mesmo com o lixo que os políticos dão sinais de continuar a produzir, a crise e as dificuldades asseguram que Portugal produzirá muito menos poluição!      
In Sorumbático, 29 de Março de 2013

quarta-feira, 27 de março de 2013

Sem carro, sem casa, sem trabalho

ESTOU a ficar na dúvida, sem saber a quantas é melhor andar. Eu explico :Estou sem carro, sem casa e sem trabalho. 
Há 50 anos, dava de frosques, punha as pernas a caminho, dava corda aos sapatos, falava com três ou quatro pessoas e alguma coisa se iria arranjar. 
Há 30 anos, ficava desesperado, agarrava no resto do dinheiro, pedia mais algum emprestado e emigrava. Logo se veria o que sairia na rifa, mas alguma coisa se haveria de conseguir. 
Hoje, sem carro, sem casa e sem trabalho, nesta idade, é um descanso!
Não me preocupam, de todo, os preços dos combustíveis. Não quero saber se o gasóleo desce e a gasolina sobe, ou se o Hollande vai pôr uma coisa e outra ao mesmo preço. Não gasto combustível e de transportes públicos ando o mínimo possível. 
Como não tenho casa e vivo por favor numa parte de casa com serventia de cozinha, quero lá saber do IMI ou preocupa-me lá a nova lei das rendas! Néspias! Tenho é de me dar bem com os meus vizinhos, para não me subirem a renda nem me despejarem do quartinho alugado, porque este é um sítio muito central para ir a pé para os biscates que me vão aparecendo. 
Sem trabalho é um descanso. Sou patrão de mim próprio, trabalho segundo o meu próprio horário, não aturo patrões estúpidos nem chefes incompetentes e não tenho de gramar colegas preocupados com o euromilhões, com os filhos nem com o Futebol Clube do Porto. 
Por fim, como não tenho dinheiro para pôr no banco, durmo descansado, que nem um anjinho, sem me preocupar com a zona euro, se vamos ou não voltar ao escudo, não sonho com a Merkel, não penso em Chipre e quero que o Constâncio e o Gaspar dêem uma volta ao bilhar grande… 
Sem carro, sem casa e sem trabalho é um descanso! Porque pensam que cada vez há mais gente a viver assim?!
In Sorumbático, 27 Março,2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

Mortífero Prémio Nobel

O PRESIDENTE Obama é o Prémio Nobel da Paz politicamente responsável pelo maior número de civis mortos em acções militares das tropas de que ele é o comandante supremo. O mundo inteiro viu-o também a assistir em directo à morte de Bin Laden por uma força Seal de Marines sob o seu comando. Agora, Barack Obama prepara-se para ser o presidente dos drones, os aviões não tripulados que, à distância e telecomandados, matam ou destroem alvos previamente escolhidos sob as ordens do presidente. 
Interessantes as perguntas e respostas acerca do poder do presidente mandar abater cidadãos americanos em solo americano sem uma decisão de qualquer tribunal.”O Presidente não matou ninguém assim, ainda”, respondem aqueles que falam por ele. O presidente diz “não matei ainda ninguém e não tenho a intenção de mandar matar americanos, mas pode ser preciso” . Os críticos não se calam: a resposta certa do presidente deveria ter sido apenas “Não!”. 
Bill Maher, um seu apoiante, reconhece que os drones têm sido excessivamente utilizados em todo o mundo. Mas o mais esclarecedor de tudo, para nós, é o reconhecimento de Maher de que “nem todos os ataques de drones são maus. Algumas pessoas precisam mesmo de ser mortas. É como com a pena de morte! O que é preciso é matar a gente certa!”
Entre a Segurança Nacional e os Direitos Humanos, estes perdem para aqueles. Os especialistas compreendem e justificam as decisões dos presidentes, como aquelas que no Paquistão e no Afeganistão mataram milhares de civis inocentes. Se fôssemos presidente faríamos a mesma coisa. Metem-nos numa pequena sala interior, sem janelas, mostram-nos uma lista dos maus e filmes secretos de tipos que nos convencem que são terroristas, e lembram-nos que o nosso papel é proteger a democracia, as instituições, o povo, a nação. Perante isto que se pode fazer de diferente do que eles fazem?!” 
Veremos o que o futuro nos traz e as partidas que pode pregar ao sucessor de W.Bush…para nos proteger, naturalmente... 
In Sorumbático, 25 de Março 2013

sexta-feira, 22 de março de 2013

Os parabéns hoje devidos ao CCC que dá vida aos nossos corações

Por Joaquim Letria 
UMA COISA que eu gosto, nesta escrita de opiniões, é ter oportunidade de dizer bem de alguém ou de alguma coisa. Infelizmente, surgem mais ocasiões para criticar e denunciar o que está mal do que ser encomiástico para o que quer que se queira. Também é verdade que os leitores preferem a maledicência e o escárnio, o que, por si só acaba por justificar que muita gente da que anda a escrever por aí escolha essa linha para ter mais audiência, acumular mais leitores e ser mais compensado quando se cala ou elogia. Nada disto é errado, se conduzido com equilíbrio e seriedade, mas infelizmente nem sempre é isso que norteia alguns beneficiários de favores e prebendas que vociferam segundo as suas próprias conveniências.
Nestas linhas, venho dizer bem do Centro de Cirurgia Cardiotorácica de Coimbra (CCC) que completa hoje, precisamente, 25 anos de idade. Só poderei ganhar alguma coisa com isto se alguma vez me levarem atempadamente a Coimbra, de tinhonhi, para entrar para o “Clube do Fecho Éclair”, nome irónico posto àqueles que são operados ao coração e ficam com uma costura bem feitinha sobre o esterno. Mas não conheço lá ninguém e, de nome, só reconheço o Professor Manuel Antunes, responsável por alguns amigos meus ainda andarem por aí, dez e quinze anos depois de lhes ter partido o esterno e lhes ter posto o coração a palpitar cá fora, até ao final da reparação da avaria.
Durante este quarto de século que hoje se completa, o CCC operou cerca de 40 mil doentes sem que, até hoje, ali exista uma lista de espera.Com uma média de 1850 operações anuais, cerca de oito por cada dia útil, este serviço, integrado no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), é uma referência portuguesa a nível internacional. O CCC salvou muitos milhares de portugueses, sem lhes perguntar quanto ganhavam e se podiam pagar. Note-se que a Unidade de Tratamento Intensivo das Coronárias (UTIC) de Santa Maria, mais a cardiocirurgia de Santa Cruz, em Carnaxide, e os serviços de cirurgia vascular de Santa Marta são outros pontos de excelência deste nosso tão mal tratado país. Não é bonito?!
Que feliz que eu fico por poder aqui elogiar este serviço, do CCC, precisamente quando faz 25 anos de idade, sobrevivendo a governos, ministérios, ministros, ministras e administradores, sem permitir que o estraguem como fizeram em muitas outras parcelas do Serviço Nacional de Saúde! 
In Sorumbático, 22 Março 2013

quarta-feira, 20 de março de 2013

O fim da rebaldaria?!

Por Joaquim Letria 
ALGUNS gestores e administradores portugueses, de certas empresas públicas e privadas, estão entre os mais bem pagos do mundo, vamos lá saber porquê, se atendermos aos resultados e aos graus de dificuldade do trabalho que têm que fazer. 
O CEO (presidente executivo) norte-americano mais bem pago em 2012 foi Mike Duke, do Walmart. Ele recebeu 10 mil euros à hora, o que é mais do que um trabalhador médio, mais a família e amigos, todos juntos, recebem num mês de trabalho. Mike Duke foi o 46.º gestor mais bem pago na América durante o ano passado, segundo a revista Forbes
Um gestor de empresa, pública ou privada, recebe hoje 340 vezes mais do que um trabalhador médio. Em 1980, um gestor recebia 42 vezes mais. Durante décadas os salários, prémios e bónus dos gestores e administradores não pararam de subir, com as diferenças a aumentarem cada ano até chegarem às proporções escabrosas de hoje. A tirania desta nova classe de monarquia no topo das empresas, além de se aumentar a si própria sem critério, considera-se com direito a tudo sem ter de prestar contas a ninguém. Entretanto, para melhor podemos avaliar o seu trabalho, conseguiram que um salário dum trabalhador médio, que era de 8 euros à hora em 1968, passasse para um máximo de …4,70 euros, apesar da produtividade ter duplicado neste período. 
Barack Obama anunciou que deseja que o salário mínimo, nos Estados Unidos, seja de 9 dólares à hora, em 2015, isto depois de ter dito em campanha eleitoral, em 2008, que queria que esse mesmo salário, em 2011, fosse de 9,5 dólares, o que só mostra que quem vive do seu trabalho está muito bem entregue! 
A defesa dos gestores reside no argumento de que os bónus e os salários monstruosos que auferem são necessários para atrair os melhores para o negócio. Mas os suíços já não vão nessa conversa. Depois de verem o seu banco gigante UBS perder biliões em negócios e os seus laboratórios farmacêuticos Novartis despedirem milhares de trabalhadores e técnicos, os eleitores helvéticos decidiram, em referendo, exigir que os accionistas aprovem os montantes dos prémios e salários de quem nomeiam para lhes cuidar dos negócios. Esta decisão de cidadania está a preocupar as cabeças das companhias pelo mundo fora. Será que a rebaldaria vai, um dia, acabar!? 
In Sorumbático, 20 de Março 2013

segunda-feira, 18 de março de 2013

Um papa híbrido

FOMOS habituados a estarmos divididos entre a preservação do melhor do nosso passado, das nossas tradições, das práticas culturais, crenças e preconceitos e, ao mesmo tempo, ficarmos repartidos entre tudo aquilo que conhecemos para trás e o desconhecido da mudança, do futuro e do progresso. 
Para uma religião com dois mil anos de História, esta é uma questão de grande importância, em especial para todos os membros da instituição que a promove e defende. Francisco, o novo Papa, é apresentado como um ser profundamente conservador, recusando a mudança no que se refere ao casamento, ao sexo e ao aborto, mas mostrando-se profundamente sensível em tudo que tem a ver com os problemas sociais, o que faz do novo papa um híbrido. 
Jesus foi contra o julgamento, a exclusão e o castigo, mas os seus sermões, em particular o da montanha, são vistos como uma palavra de esquerda, porque comprometida com os pobres, os amantes da paz e das boas aventuranças, enfim com todos aqueles com condições para entrarem no reino dos céus.
Possivelmente, fazer com que os bons pensamentos de Jesus nos sirvam e nos acompanhem no século XXI pode bem ter atravessado o espírito de alguns dos cardeais que escolheram Jorge Bergoglio para Francisco I. Pessoas daquela idade e com aquela experiência de vida tendem a preocupar-se mais com o longo prazo e com as coisas eternas.
Nós, simples humanos, observamos tudo isto e reflectimos acerca do que nos rodeia e gostaríamos de preservar a religião que diz respeito a cada um de nós, qualquer que ela seja, defendendo-a dos assaltos do consumismo e do materialismo que tanta injustiça têm espalhado à nossa volta. 
 (In Sorumbático, 18 de Março 2013)

sexta-feira, 15 de março de 2013

“GRÁTIS NÃO TRABALHO”

HÁ UMA confusão grande no mundo da Informação. Muitos jornalistas lamentam a sua perda de influência acusando a falta de investimentos publicitários, o que certamente, não justifica tudo, enquanto outros parecem aturdidos sem perceberem o que está a acontecer; Uns e outros parecem animar-se com um único facto, mas muito enganador – se ainda não se publicou a notícia da grave crise do jornalismo, é porque esta não existe. 
A solução escolhida até agora é errada. Dizimar as empresas e aplicar austeridade não vai resolver nada nem salvar ninguém, tal como campanhas publicitárias institucionais nunca ajudaram quem quer que fosse. A pouco e pouco, vamos ver servirem-se do jornalismo de indignação, passando também os escândalos a figurarem no receituário do chamado jornalismo de referência. Entretanto, legiões de jornalistas desprotegidos e sem favores buscam sobreviver de traduções e colaborações episódicas, porque colaboradores avençados e o privilégio de ser regularmente explorado é território de muito pouca gente, enquanto os outros vêem os soldos diminuírem e os salários desaparecerem.
Em Espanha, há muito pouco tempo, a “Associação de Imprensa” teve de fazer uma campanha onde se dizia “Grátis não trabalho”, o que por si só diz tudo…
Mas a verdade é que quando um jornalista só encontra trabalho não remunerado, pode dedicar-se ao trabalho em que mais acredita e no qual se revê, mesmo que não seja rentável. O embaratecimento dos custos também permite a cada um o empreendimento dum novo projecto através do qual se pode prestar um serviço à sociedade. Os outros, deixá-los! Aproximaram-se tanto do Poder que agora ardem com ele e ainda vão passar muito tempo a lembrar porque é que o jornalismo é imprescindível à Democracia.. Ah! pois é… 
In Sorumbático – 15 Mar 13

quarta-feira, 13 de março de 2013

DA TRAGÉDIA À ÓPERA BUFA

A VIDA política dá mostras de preocupante incoerência. Passamos com a maior facilidade da tragédia para a ópera bufa. A verdade é que nos deram cabo da Economia, destruíram o resto da Indústria, narcotizaram a Agricultura mas, apesar da incompetência, do desleixo e da maldade que combinam para nos fazer mal, o País continua a dar a aparência de não desistir de funcionar, a Nação apresentando-se muito por cima da sua triste classe política, parecendo até que se manterá de maneira indefinida, enquanto não lhe quebrarem algo insubstituível.
Alguns julgam que se assim continuarmos tudo isto passará ao esquecimento, incluindo os episódios que marcam este triste género que nos obrigam a suportar, faz agora duas décadas, mais coisa menos coisa. O grave é o desemprego continuar a aumentar, a educação não melhorar, a assistência médica piorar, os impostos aumentarem, o que é nosso ser cada vez menos e a vontade de aqui viver não parar de diminuir. 
Sem regras, nem ética, nem ideias definidas que potenciem o crescimento e regulem a concorrência interna, os partidos são oligarquias imobilistas cada vez mais parecidos com quadrilhas apostadas em arranjar empregos, ajudar os medíocres e servirem-se dos corruptos. É verdade que os ratos fazem o baile quando os gatos estão de folga. Mas também é preciso pendurar guizos nos gatos…Doutra maneira, como estamos todos a ver, não abandonamos nunca o disparate económico e a tontice política. 
In Sorumbático – 13 Mar 13

segunda-feira, 11 de março de 2013

BANCOS E POLÍTICA DÃO RAIA

Por Joaquim Letria
NÓS, PORTUGUESES de má pinta, metemo-nos no negócio da banca e agora podendo todos gabar-nos que somos banqueiros, assobiamos às botas das nossas economias, enterradas no BPN, na Caixa Micaelense, na Caixa Madeirense, no BANIF e no BPP e palpita-nos que não tarda nada e metem-nos também na Caixa Geral de Depósitos e mais um bocadinho no BCP. Melhor que nós só o Joe Berardo, o Oliveira Costa e o sobrinho do Isaltino, que é taxista mas faz excelentes depósitos na Suiça.
Esta coisa de meter dinheiro nos bancos dá mau resultado. Em Espanha e na Alemanha já se viu que mais vale jogar no euromilhões ou mesmo fazer a raspadinha do Santana Lopes.A Espanha, por via disso, recebeu 40 mil milhões de euros para ajudar os seus bancos em dificuldades.A maior parte destes bancos espanhóis é composta por caixas económicas regionais, muito chegadas aos partidos que mandam nas regiões autónomas.
Os 40 mil milhões de euros que foram para os bancos espanhóis também foram acompanhados por um memorando de entendimento, que hoje em dia ninguém empresta dinheiro a ninguém sem esses memorandos que são muito parecidos – diz quem já os leu –com as letrinhas mais miúdas das apólices de seguros. Em Espanha, os partidos indicaram muitos gestores incompetentes (e alguns parece que também corruptos) e muitos projectos económicos deram com os burrinhos na água.
Também na Alemanha há caixas regionais públicas ligadas aos governos dos estados que não primam pela boa gestão. Dizem que estão carregadinhas de “activos tóxicos”,olhem para a Renânia-Westfália!
Por estas e por outras é que a sra. Merkel se opõe a que o Banco Central Europeu, apesar de lá ter a doçura do Dr. Constâncio, supervisione essas caixas da zona euro. A Angelita sabe bem que misturar bancos na política dá quase sempre raia. Foi coisa que o Kholl não se cansou de lhe repetir…
In Sorumbático – 11 Mar 13

quarta-feira, 6 de março de 2013

O HOMEM DE QUEM NÃO DISSERAM NEM DIZEM BEM

Por Joaquim Letria 
OS NORTE-AMERICANOS estiveram à espera da morte de Hugo Chavez para porem mais ódio cá fora do que aquele que manifestaram nos 58 anos de vida do comandante. É natural que assim o tenham tratado e que continuem a tratá-lo desta forma, se reflectirmos um pouco acerca do que Chavez representou e, principalmente, fez na Venezuela. 
Os artigos sobre Chavez naturalmente que falarão sobre o golpe de estado que tentou liderar, da sua amizade com os irmãos Castro de Cuba, a sua intimidade com Putin e Ahmadinejad, recordarão o “porque no te callas?” do rei de Espanha e dos “diabos” de George Bush filho, na Assembleia da ONU. 
E, também naturalmente, estes e outros artigos não mencionarão a subida de 10,5 anos de educação em 2000 para 14,2 em 2011, nem se referirão à esperança de vida dos venezuelanos ter aumentado de 72 para 74,4 anos durante esse mesmo período. Quase de certeza que esses artigos falarão nas tentativas de Chavez aumentar a duração dos mandatos presidenciais e talvez o acusem de ser autoritário, como muitos lhe chamavam ditador. E esquecer-se-ão de referir que Chavez sempre foi democraticamente eleito com grandes margens de votos populares em votações maciças como nunca se haviam repetido na Venezuela em muitas outras décadas. 
Certamente que os artigos que se preparam sobre a Venezuela também criticarão as pobres condições das prisões venezuelanas, mas não se referirão ao facto do presidente agora morto ter perdoado aqueles que tentaram derrubar pela força o governo democraticamente eleito em 2002. 
Certamente que não se esquecerão de dizer que a Venezuela beneficiou da subida do preço do petróleo, mas é natural que omitam que utilizou esses rendimentos do petróleo para apoiar cidadãos de muitas nações, designadamente norte-americanos necessitados. 
Verdade que algumas coisas eram difíceis de nos porem a concordar com Chavez. Mas muito mais raras e sobretudo muito pouco honestas eram as coisas com que se podia concordar do que escreviam sobre o comandante Hugo Chavez e a sua Venezuela.
In Sorumbático, 7 de Março de 2013

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

NO ASPECTO NÃO ESTÁ O GANHO!

LEMBRAM-SE daquele diligente funcionário bancário em Montalegre que não deixou entrar um cliente na agência bancária que chefiava no Nordeste por estar mal vestido?! Um pobre dum cliente que tinha uma indústria de sucata, de onde se dirigia ao banco para depositar um cheque de cerca de 200 euros? 
O homem ia tão mal vestido que não parecia um industrial, para dizer a verdade, de acordo com a queixa que o pobre cliente do banco que José Roquette converteu em luso-espanhol apresentou na GNR, o diligente bancário não teve dúvidas! 
"O senhor parecia mesmo um romeno", terá dito o funcionário para explicar a sua confusão e a sua intolerância para os antigos súbditos de Ceausescu! 
Pois imaginem o que tão diligente funcionário do Santander-Totta, de terras transmontanas - e não são paragens quaisquer, Montalegre tem de dar-se ao respeito dos bancários, pois é a capital da região desse supremo sacerdote da banca que dá pelo nome de Armando Vara - diria a esse desgraçado que vos mostro sentado com aquele ar infeliz no metro de Nova York! 
O infeliz é só Sergey Brin, um dos homens mais ricos do mundo e entre os 20 mais poderosos do planeta! proprietário e número dois da Google! Imaginem-no em Montalegre, a querer is ao Santander-Totta! Não entrava! Com aquele aspecto?! O Sergey parece mesmo um industrial de sucata! 
Ver notícia [aqui]

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

MAIS UM ANO PERDIDO

DIFICILMENTE este nosso País sairá da crise se não conseguir alterar o ciclo inversor, recuperando-o, de modo a lograr a criação de trabalho intensivo. Há que reduzir a duração da austeridade, encurtando prazos que evitem mais graves tensões sociais, erradicando situações de grande injustiça e de desamparo social.
Dificilmente outras nações suportariam aquilo que se abateu anos a fio sobre Portugal: corrupção, incompetência, crise económica e ausência de séria liderança política. A perplexidade deveria ser ainda maior, se considerarmos o tempo e os parceiros a criar a débacle e as vagas e desonestas declarações semi-oficiais com que nos sussurram ao ouvido numa situação tão calamitosa que justificaria a formação dum Governo de Salvação Nacional que mostrasse com clareza que o Estado é um assunto demasiado sério para estar entregue a políticos de passagem.
2013 será mais um ano perdido quer no que toca a emprego, quer no que diz respeito a crescimento económico. E 2014 muito dificilmente poderá assinalar um dinamismo que crie postos de trabalho de modo bastante a devolver aos Portugueses a esperança perdida.
Assim, que pelo menos 2013 seja o ano do fim das convulsões financeiras, mais graças à acção do Banco Central Europeu do que devido às medidas propostas e adoptadas pelo nosso Governo. De qualquer modo, demorarão diversos trimestres até que essa estabilização se faça sentir na nossa economia real. Mais uns tantos trimestres para sobrevivermos à nossa custa.
In Sorumbático, 4 Fev 13

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

QUE ELES NOS DESCULPEM!

A POLÍTICA nacional dá mostras de grande frivolidade e irresponsabilidade, saltitando do dramatismo da tragédia para as piadas de mau gosto. Sem dúvida nenhuma que Portugal, enquanto nação, é muito superior à sua classe política, uma realidade que poderá fazer-nos perder algo de insubstituível, criando uma situação irreparável. 
No meio da confusão, do desconcerto, da incompetência e da intriga, vivem aqueles que geram artigos e comentários de encomenda, muitos deles sem nunca serem lidos e outros sem ninguém os ouvir. Muitos julgarão que tudo isto será prontamente esquecido, numa espécie de café-concerto que, com o tempo, não adianta nem atrasa. 
O grave é que o desemprego não pára, a educação não melhora, a saúde piora, os impostos aumentam, as contrapartidas diminuem, a economia verdadeira não arranca e a dívida externa cresce. Partidos e sindicatos movem-se à margem das leis, tentando cumprir os fins para que foram criados e existem, convencidos, uns e outros, de estarem a representar a vontade popular, a participação cidadã e o pluralismo ideológico.
Infelizmente, foram assaltados por quadrilhas organizadas, sem regras claras que regulem a concorrência democrática interna. Os partidos converteram-se em oligarquias imobilistas, agências de emprego para os medíocres e de colocações temporárias para os corruptos, criando uma podridão insuportável, de que há, cada vez mais, jovens atordoados a fugirem lá para fora. Que eles nos desculpem e que Deus os acompanhe!
In Sorumbático, 1 Fev 13

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

DEVIAM TER IDO À CATEQUESE!

“AS IDEOLOGIAS do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam (…) a convicção de que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado”, criticou Bento XVI numa mensagem urbi et orbi, na qual acrescentou:
"Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime, inclusivamente, num capitalismo financeiro desregrado”. E o Sumo Pontífice disse ainda: 
“O liberalismo radical e a tecnocracia querem que o crescimento económico se consiga mesmo à custa da erosão da função social do Estado, e das redes de solidariedade da sociedade civil. O trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não são adequadamente valorizados”. 
Entre outras frases, o Papa proclamou “ser necessário um novo modelo de desenvolvimento e uma nova visão da economia”. Se o chefe da Igreja Católica já vai aqui, onde poderiam ir os sociais-democratas e os democratas cristãos!? Que pena que os nossos não tenham ido à catequese das “Js” onde aprenderam tão pouco! 
In Sorumbático, 30 Jan.2013

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

UM DESEJO IMPRATICÁVEL

JACQUES Delors foi o criador da moeda única europeia, o euro. Perante a actual crise, Delors defende a revisão do tratado europeu. O socialista francês vai até ao ponto de criticar o governo de Paris por não ter apoiado Angela Merkel na urgência de se rever o tratado.
Delors diz que se o tratado não for revisto, e se não se apaziguar a Grã Bretanha, que voltou às ameaças de sair, a Europa comunitária acabará por dar com os burrinhos na água e transformar-se-á numa simples zona de comércio livre. 
Em Dezembro de 2007 foi aprovado o tratado de Lisboa, já depois de se ter alargado a UE. Este tratado, depois de diversas tentativas malogradas, não foi mais do que uma habilidade para se fingir que o tratado era muito diferente da Constituição Europeia, chumbada em referendo na França e na Holanda, em 2005. 
Agora, o que Delors quer é impraticável, com a comunidade alargada a 27 países e a exigência de unanimidade. Poucos de nós cá estaríamos para aplaudir um resultado positivo ao cabo de décadas de negociações… 
In Sorumbático 28 Jan.2013

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

ELE SEJA CEGUINHO

QUANDO tomou balanço para vir a ser primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho disse que não nos aumentaria os impostos (oh!oh!oh!) e jurou que iria cortar os gastos, as gorduras e os desperdícios do Estado (ih! ih! ih!)
Ele fosse ceguinho se não seria isso mesmo que ia fazer para aliviar a vida a todos nós! Ao fim de ano e meio no Governo, fez exactamente o contrário e as únicas coisas que não pioraram foram aquelas em que o Governo não fez raspas.
Cortou salários, pensões, aumentou impostos, criou taxas, empobreceu famílias e deitou no desemprego e na miséria mais uns bons milhares de portugueses, enquanto muitos outros tiveram de zarpar para verem se arranjam com que pagar a bucha lá fora, na nova qualidade de emigrantes. Hoje em dia, mais de dois milhões de portugueses enxameiam a Europa à procura de trabalho ou a fazerem limpezas e a servirem à mesa.
A recessão, o encerramento de empresas e o desemprego continuam a ser galopantes. Mas o Estado não se contém nos gastos. Os institutos, as fundações, os Boys & Girls, os especialistas e assessores em ministérios e gabinetes de secretários de Estado, as empresas municipais, as negociatas, as mordomias, os juros pagos pela dívida pública, os bancos privados que vêm tirar mais dinheiro aos contribuintes públicos são territórios livres de qualquer austeridade.
Os trabalhadores, os pensionistas e as pequenas empresas sabem bem quanto o regabofe lhes custa. São eles os grandes castigados pelo preço dos privilégios de quem continua a mamar na teta do Estado.
In Sorumbático, 25 Jan.2013

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

AS JÓIAS DE ESTIMAÇÃO

HÁ DOIS anéis que custa muito aos portugueses desfazerem-se deles para ficarem com os dedos: a TAP e a RTP. 
 Uma e outra são verdadeiros símbolos e instrumentos do nosso ser colectivo, do nosso orgulho nacional, ambas indissociáveis do nosso conceito nacional. Não têm a ver com a EDP, a REN e a Ana, outras jóias de família que já fomos deixar no prego para comermos fiado mais algum tempo. A TAP e a RTP são diferentes. São também jóias de estimação, mas estas já eram de estimação da avó e da mãe. 
Vender agora, é vender ao preço da uva mijona, o que ainda custa mais, não fora essa, ao que nos dizem, uma necessidade absoluta. É pior do que penhorar para dar a sopa aos filhos. É ceder a prestamistas, mostrar o rabo a agiotas, facilitar a amigos, dar dinheiro por obséquio sem perguntar aos verdadeiros donos se autorizam, se acham o preço certo, se concordam com a política do “vão-se os anéis, mas fiquem os dedos”.
A gente até estaria disposta a fazer maiores sacrifícios se soubéssemos para quê, se acreditássemos nos vendedores e se confiássemos nos prestamistas. Mas a verdade é que, para mal dos nossos pecados, até há negócios destes em que confiamos mais nos credores… 
In Sorumbático, 23 Jan.2013

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A SINA DO MEXILHÃO


ÁGUA MOLE em pedra dura, tanto dá até que fura! Este velho ditado popular está a ser muito bem aplicado por alguns partidos e pelas suas ramificações no Poder Local, de modo a garantirem um rendimento exponencial escandaloso, por via indirecta, e ainda a satisfação de boa parte da clientela que é dominante e muito rendosa na penumbra dos financiamentos partidários.
Também aqui, apesar de se tratar de água doce e levar cloro e outros desinfectantes, quem se prejudica é o mexilhão… 
Muitas autarquias privatizaram o negócio da distribuição de água com resultados catastróficos para as populações. Na maioria destes casos, verificou-se que os acordos de privatização provocaram aumentos escandalosos nos preços pagos pelos consumidores.
Além do mais, e tal como em certos casos das PPP nas vias rodoviárias, ficaram também garantidas rendas fixas e décadas de grandes margens de lucros para os privados, ficando os prejuízos por conta dos orçamentos municipais.
Na existência dos monopólios públicos já se corriam grandes riscos, como muitos de nós podem, infelizmente, comprovar. No caso de monopólios privados, só uma regulação e fiscalização de grande rigor e independência poderiam garantir um preço justo para um serviço de qualidade, premissas muito raras, pouco prováveis e só excepcionalmente praticadas no nosso País.
Acresce, ainda, que as concessões municipais foram e serão destinadas àqueles que dominam todos os negócios públicos locais, especialmente os construtores e os promotores imobiliários. Uma dúvida pouco consistente mas que perdura, correndo o risco de se transformar em certeza, é o aumento dos preços e a pior qualidade de serviços para as populações e consumidores e a repercussão desta realidade em outros sectores, vitimizados pelo fracasso que se abaterá com maior violência  sobre as finanças dos municípios.
 (In Sorumbático, 21 Jan.2013)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

NEM CYRANO NEM OBÉLIX ESCAPAM!...

O IMENSO, único actor Gérard Dépardieu veio chamar a atenção de todo o Mundo em geral e da França em particular para o fenómeno da fuga de milhares de contribuintes franceses para países de fiscalidade mais moderada, a qual acontece há muitos anos e se acentuou desde que os socialistas reocuparam o poder em Paris. 
Gérard transferira o seu domicílio fiscal de França para a Bélgica, internando-se cerca de 600 metros para lá da fronteira, e ali comprando uma casa que passou a ser a sua residência fiscal quando foi atingido pela grosseria do primeiro ministro, a ministra da cultura e o ministro do trabalho de Hollande. 
Dépardieu limitara-se a fazer o que milhares de outros haviam feito e a repetir o que geralmente acontece quando um determinado país sobe os seus impostos. David Niven viveu anos e anos no Sul de França, Paulo Coelho vive em França com residência fiscal no Brasil, Anthony Hopkins naturalizou-se norte-americano e vive nos Estados Unidos, etc., etc., até aos milhares de outros, anónimos, que vivem na América do Sul, no Sul da Europa, em Andorra, no Luxemburgo, Lichenstein ou Principado de Mónaco, para fazerem exactamente o mesmo que Gérard Dépardieu fez sem ouvirem um primeiro-ministro de casca grossa classificá-los de “desprezíveis”! Algo que justificadamente nem Cyrano de Bergerac nem Obélix gostaram de ouvir nem sequer mereciam… 
A insensibilidade dos burocratas franceses fez com que Putin, presidente do Governo dum país que venera o teatro, reconhece a cultura e admira profundamente a figura de Dépardieu, lhe oferecesse a cidadania, concedendo-lhe um passaporte russo e abrindo-lhe uma república da federação para ali construir uma casa num bosque. Alguns actores de meia leca, da babugem do PSF, também vieram zurrar em público contra Dépardieu, mas para esses bastou uma carta de Catherine Deneuve no diário “Liberation”. 
 A actriz meteu-os na ordem e recordou a dimensão artística e cívica de Dépardieu. Este, por seu turno, numa carta aberta, recordou a sua vida de trabalho desde os 14 anos de idade, os 185 milhões de euros pagos ao fisco ao longo duma vida de trabalho fiscalmente impoluta, os 80 empregos que actualmente assegura com a sua produção artística, os mais de 100 postos de trabalho que mantém nos seus restaurantes e nas herdades onde produz os seus vinhos. 
 Todos os anos saem de França uma média de 800 “exilados fiscais”, e banqueiros e empresários começam a dar sinal de desconforto apesar do Tribunal Constitucional ter chumbado os impostos mais elevados com que as fortunas eram visadas pelo Governo Este procura ainda criar um imposto de 75% sobre rendimentos acima do milhão de euros. 
Admite-se que o número de “fugitivos” aumente, o que geralmente acontece sempre num determinado país onde se aumentam muito os impostos.
In Sorumbático, 18Jan 2013
 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

CRISTÃOS ATACADOS

EXTREMISTAS budistas lançaram fogo a 20 igrejas cristãs na Índia e pretendem destruir muitas mais, ao mesmo tempo que atacam crentes cristãos. O Superior Provincial da Ordem dos Franciscanos na Índia lançou mesmo um pedido de auxílio aflitivo. Dezenas de missionários correm ainda o risco de serem assassinados pelos budistas indianos. Segundo os cristãos, a razão para estes ataques não tem outros motivos que não seja exclusivamente o ódio religioso.
Entretanto, na Nigéria, radicais islâmicos estão a assassinar cristãos, que não se defendem. No Norte da Nigéria, onde predomina a população islâmica, os cristãos vivem em pânico, sob a ameaça constante de serem massacrados.
Do Sudão à China, os cristãos estão a ser alvos de perseguições. A guerra da intolerância religiosa também se deveu muito, no passado, a crentes cristãos. Todavia, nos tempos presentes, o cristianismo é a religião mais atacada no mundo e os seus crentes não dão sinais de se defenderem ou retaliarem a violência de que são alvo. 
In Sorumbático 16 Jan 13

domingo, 13 de janeiro de 2013

EXTREMA-DIREITA ALEMÃ NÃO CONSEGUE CRESCER

POR ESTES dias, uma manifestação neo-nazi autorizada realizou-se na cidade de Magdeburgo, em memória das vítimas dos bombardeamentos aliados durante a II Guerra Mundial. Nessa manifestação participaram também nostálgicos do III Reich e simpatizantes do NPD (extrema-direita racista). Também membros da direcção deste último partido se reuniram numa cerimónia igualmente autorizada, na capital dum land que fez parte da antiga RDA. 
O NPD existe na Alemanha desde 1964 e recebe dinheiro do Estado federal alemão para poder existir. Em 2010, recebeu mais de um milhão de euros e, além destas subvenções, dispõe de 13 deputados nos parlamentos regionais de Mecklenburg e na Alta Saxónia e ainda conta com mais de 300 vereadores espalhados pelo poder local. Em 2003 tentaram ilegalizá-lo mas tiveram de desistir, no meio dum escândalo, depois de se descobrir que havia agentes provocadores infiltrados até às cúpulas dirigentes do partido. O escândalo foi tal que até hoje ninguém voltou a falar da sua ilegalização.
Hoje, o mais interessante desta questão é verificarmos que quer Angela Merkel, quer o seu ministro do Interior, Hans Peter Friedrich (CSU bávaro) ainda não chegaram a uma conclusão sobre se o NPD deve, ou não, ser proibido, apesar das investigações ligarem o NPD a grupúsculos extremistas neo-nazis, comprometidos em atentados e assassínios racistas, como aqueles cometidos pela “Célula de Zelle”, um trio assassino que actuou por todo o País na última década. 
Mas o mais intrigante deste caso é o NPD existir desde 1964 e hoje ser o partido da extrema-direita mais antigo da Europa sem que tenha logrado converter-se numa grande força, como a Frente Nacional francesa ou o belga Bloco Flamengo. A extrema-direita alemã não cresceu ao longo dos anos, nem sequer depois da reunificação, e nunca teve um líder carismático como Jean Marie Le Pen, em França.
Curioso o facto dos dirigentes do NPD não recusarem a hipótese de recorrerem ao tribunal de Karlruhe para que seja decidida a sua legalidade. Se, como aconteceu em 2003, o governo alemão voltar a falhar, chegar-se-ia à conclusão de que alguma coisa está mal nos serviços secretos federais para falharem tão estrepitosamente, por duas vezes seguidas, e com tanto tempo pelo meio. Restaria o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem que proíbe partidos quando estes pretendem alcançar o poder por meios antidemocráticos, como já fez com o basco Herri Batasuna, em 2009. Algo que o NPD tem o maior cuidado em evitar que se possa provar.
In Sorumbático, 14 Jan 13

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

BENTO XVI PREPARA-SE PARA ULTRAPASSAR LADY GAGA



O PAPA Bento XVI publicou as suas primeiras mensagens através das suas contas oficiais do Twitter. Na primeira delas, alcançou - somando os oito idiomas em que foram enviadas - mais de 83 mil “retwitts” nas primeiras oito horas. Pela noite daquela quarta feira, o @Pontifex tinha ultrapassado os 920 mil seguidores. Até ao fim desta semana, o Papa deverá ultrapassar o milhão de “followers” e, em poucos meses, todos os especialistas contam que o Sumo Pontífice supere os 30 milhões de seguidores de Lady Gaga.
Os sociólogos não sabem se esse número excepcional é por se tratar do Papa, ou por aquilo que ele diz. A primeira mensagem, enviada aos 12 minutos das 12 horas do dia 12 do mês 12 de 20 e 12, foi escrita num tablet que o papa usa. Foi uma bênção a todos,” de todo o coração”.
Em textos de apenas 140 caracteres, o Papa não se arriscou ainda a entrar no domínio dos dogmas e, apesar das diferenças nítidas entre os milhares de comentários, não apareceu nenhum Lutero. O Papa também não improvisou nem o fará. Bento XVI junta-se, desta forma, a Obama, Bill Gates e ao Dalai Lama, entre outros famosos, e promete desde já não se limitar, futuramente, a micro mensagens. Uma empresa espanhola está a preparar o “layout” para as suas aplicações para tabletts e telefones inteligentes.
Uma das três perguntas a que o Papa respondeu foi “como rezar mais quando cada vez há menos tempo para nós, para o trabalho e para a sociedade?”:”Oferece tudo o que fazes ao Senhor, pede a sua ajuda em todas as circunstâncias da vida e lembra-te que ele está sempre ao teu lado”, escreveu Bento XVI.
As respostas às perguntas seleccionadas serão semanais, Toda esta operação de Comunicação foi preparada e desenvolvida com o maior cuidado. Não deixa, todavia, de surpreender este fervor pela sua presença nas redes sociais da internet, a que ninguém parece escapar. Os antecessores de Bento XVI, na representação de Deus na Terra, também não evitaram a rádio nem a televisão.
 In Sorumbático de 2 Jan 13