segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

…E OS INFERNOS FISCAIS?!

É ENTERNECEDOR ouvirmos os governos e a comissão europeia manifestarem as suas sinceras intenções de combater a fraude fiscal e a evasão de impostos ao mesmo tempo que se assiste ao crescimento da economia paralela com mecanismos cada vez mais sofisticados para escapar das garras afiadas das Fazendas Públicas.
A surpresa é tanto maior quanto em Bruxelas ninguém parece ter-se dado conta de que um dos países membros – precisamente aquele que actualmente ostenta a coroa da presidência rotativa -, Chipre, é um paraíso fiscal no seio da própria União Europeia onde existem nada mais nada menos do que 250 mil empresas financeiras numa população total de 900 mil habitantes.
Desde a entrada de Chipre para o clube europeu, em 2004, que o número de holdings duplicou, e nestas aterram, livres de impostos, os dividendos das empresas do resto da Europa e mais os oligarcas russos que ali lavam o seu dinheiro. Convém não esquecer que Chipre pediu o resgate para si próprio e para os seus bancos, beneficiando desses mesmos pedidos todos os inquietantes clientes ali refugiados.
Um estudo duma consultora financeira alemã diz que nestes momentos os bancos suíços contam com 2,3 biliões (milhões de milhões) de euros procedentes de clientes estrangeiros. 660 mil milhões são de países da Europa Ocidental, 345 mil milhões concretamente da Alemanha, Itália e Grã-Bretanha.
Entretanto, segundo esses mesmos consultores, 100 mil milhões vão escapar para outros paraísos fiscais mais seguros, receio partilhado pela União de Bancos Suíços (UBS). A pressão dos Estados Unidos e da Alemanha obriga os banqueiros helvéticos a exigirem aos novos depositantes que provem que o seu dinheiro é limpo. No caso dos alemães há que enviar para a República Federal uma cópia do ingresso da importância depositada na conta suíça.
Uma coisa é pôr dinheiro onde este paga impostos mais baixos (na Irlanda, por exemplo) ou em países com moedas fortes (tais como a Suíça). Outra coisa bem diferente é evadir e lavar dinheiro “sujo” (de tráficos de armas, drogas, seres humanos, prostituição, etc.) em países onde se nega a informação das proveniências.
Curioso que a actividade bancária esteja a seguir o curso que estamos a conhecer na Suíça e em Gibraltar (território da União Europeia) o dinheiro “negro” se refugie sem problemas sob o amparo do Reino Unido. Fala-se muito de paraísos fiscais, mas ninguém se refere aos infernos fiscais, onde confiscam economias duma vida e lucros que muito trabalho deram a ganhar, e onde muitas vezes se cobram impostos de mais de 50% daquilo que se conquistou com muito esforço honesto e actividade limpa. Pensem que se os russos se refugiam em Chipre para escaparem a impostos que oscilam entre os 9 e os 13%, o que farão aqueles outros que podem e conseguem fugir à sanha dos Gaspares e de todos os outros reis magos… até o papa já deixou de declarar o burro e a vaca do presépio…

In Sorumbático 31 Dez 12

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A VER VAMOS

SEMPRE ouvi dizer que vale mais um mau acordo do que uma boa querela. Compreende-se porquê, atendendo ao trabalho, preocupações e despesas que levar uma querela até ao fim pode custar, além da imponderabilidade das decisões judiciárias, por muito favoráveis que possam parecer. 
Além destes factos, há ainda o tempo necessário para se conseguir obter uma decisão. A demora em se conhecer o resultado é tão grande, que muitos advogados recomendam aos seus constituintes que obtenham outro tipo de acordo com a outra parte. Entre nós, processo que não demore uma década, com sentenças, recursos e decisões finais, não é processo! De tal maneira que, por esse motivo, Portugal é recorrentemente condenado pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. 
As sentenças ao fim de 10 anos são tão tardias que já não constituem, muitas vezes, justiça, violando a Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Ainda recentemente o Estado Português foi condenado por três vezes por essa razão. Para além de violar os direitos fundamentais das pessoas, também a economia se ressente desse facto, com situações demoradas que prejudicam empresas e afastam possíveis investidores estrangeiros. 
Há quem diga que se está à procura duma solução. A ver vamos… 
In Sorumbático, 28 Dez 12

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O MAESTRO

UM VELHO músico judeu que vive em Londres disse uma vez que o maestro judeu argentino Daniel Baremboim era o melhor pianista palestino de sempre. Obviamente que não era um elogio. Antes se tratava duma… sarcástica “judiaria”, a propósito da Alta Autoridade da Palestina ter concedido, honoris causa, a cidadania ao famoso maestro que tanto pugna pela reconciliação entre os dois povos.
Os ultraortodoxos de Israel e os fundamentalistas de Alá são muito parecidos e puseram-se de acordo considerando, uns e outros, Baremboim um inimigo e um impostor. Baremboim expôs-se para evitar a deflagração numa aventura quixotesca. Não somente na fronteira entre Israel e a Palestina, tão abalada pelos desígnios eleitorais de Netanyahu, mas também na linha de separação entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, cenário de um concerto especial que o maestro dirigiu.
O vigor com que Baremboim defende a convivência de Israel e da Palestina como estados independentes e reciprocamente reconhecidos converte-o num terrorista, bode expiatório de ambos os fanatismos. À pedagogia política da sua orquestra palestina-judaica soma-se o excelente resultado musical. A sua gravação das “Nove Sinfonias” de Beethoven, produzida no curso duma “tournée” internacional, rivaliza com as melhores edições disponíveis no mercado.
Baremboim é um excelente maestro e um cidadão comprometido. Combateu o muro de Berlim, conseguiu que a música de Wagner fosse tolerada em Israel e dirigiu o “Anel do Libelungo” na colina sagrada de Bayreuth. Pode dizer-se que é também um dos melhores pianistas espanhóis, depois do Governo de Zapatero lhe ter concedido passaporte ao cabo de tantos concertos oficiados na península...
O maestro tem uma casa perto de Marbella, próximo de Puerto Banus. É aí que se refugia, de cada vez que quer ouvir o silêncio e desfrutar do prazer do anonimato. Quem sabe onde ele mora é o afinador de pianos que costuma ser chamado lá a casa depois daquele primeiro telefonema em que o maestro disse:
“Sou Baremboim e precisava que viesse afinar-me o piano!”
“De que bar disse o senhor que fala?” perguntou-lhe o homem, numa primeira conversa entre os dois que o maestro, até hoje, converteu em irresistível anedota.
 In Sorumbático, 26 Dez.12

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

OS ARRANJINHOS DOS GENERAIS

A DEMISSÃO do general David Petraeus como director da CIA chamou a atenção para o puritanismo dum país onde o adultério é um delito em 23 estados da união e atinge proporções de extrema gravidade nas suas Forças Armadas. Neste momento, por esse mesmo motivo, altos comandos militares estão a ser investigados, incluindo o general John Allen, que esteve para ser nomeado comandante-chefe das forças da NATO no Afeganistão.
Tudo ficou a descoberto com uma investigação do FBI, que garante a segurança interna e que apanhou em falso o patrão da CIA, envolvido numa suspeita troca de emails com duas mulheres. Estes casos reabriram o debate sobre a estratégia de segurança há anos montada pela própria CIA e apoiada pelo próprio Obama desde que chegou à Casa Branca. 
A CIA é hoje um elemento essencial duma estratégia externa marcada pelas operações especiais e os ataques da sua frota de “drones” (aviões teledirigidos). A chegada a Langley de Petraeus, o general de quatro estrelas autor do manual de contra-rebelião que mudou a guerra do Iraque após os fracassos iniciais, marcou um ponto culminante na militarização da guerra das informações. Obama, que em breve vai ter de remodelar a política externa e a segurança, poderá aproveitar esta ocasião para reformular toda a política de inteligência de Washington. 
In Sorumbático – 24 Dez.2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

PARTIR PEDRA

MUITOS de nós, Portugueses, adoram partir pedra. Quer esta expressão dizer que adoram falar por falar, não resistem a discutir o sexo dos anjos, pôr grande calor e manifestar grande empenho em mandarem vir opiniões sobre assuntos de lana caprina, desde que não tenham de pensar e discutir o que verdadeiramente conta e realmente importa.
Uma coisa é fazer isto numa sala de bilhar, numa cervejaria, no café, outra coisa muito diferente é fazer isso mesmo na rádio e na televisão. A última vez que ouvi rádio, era isso mesmo que acontecia, mas foi há tanto tempo e não encontrando ninguém que ainda ouça rádio, sou levado a pensar que essa tendência se mantém, a fazer fé nas discussões, conversas e entrevistas a avençados que comparecem nas televisões para gastar tempos e ocupar espaços.
Diz o nosso povo que contra factos não há argumentos. Mas acabamos por distorcer, discutir, pôr em causa os factos e fazer vir ao de cima os argumentos da morrinhanha. Deve ser por respeitar esta tendência que o governo, para dizer qualquer coisa que ninguém percebe precisa de falar, pelo menos, três vezes. É como aquela de que não somos como os gregos, não podemos parecer-nos com os gregos, afinal já somos como os gregos! Fazemos com a compreensão o que os surdos fazem com o ouvido: vais à caça? Não, vou à caça! Ah! julgava que ias à caça!
O que parece importante é não falarmos naquilo que é importante para nós, ou pode ser decisivo para o país. Sabem onde e quando se nota mais isto? Quando se compra e lê jornais estrangeiros. Experimentem! Parece que desembarcámos em Marte e até gostamos das histórias que por lá se contam!
 In Sorumbático, 21 Dez 12

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

LÁ VOLTAM ELES, CANTANDO E RINDO…


O PRESIDENTE da Hungria e o seu partido acentuam cada vez mais a sua tendência nacionalista, procurando obter maiores apoios e mais seguidores na extrema-direita. É nesta linha de propósito que se podem entender as homenagens oficiais a figuras políticas do passado que apoiaram as “Flechas Cruzadas”, o movimento dos colaboradores húngaros dos nazis.
O mal-estar social face à ameaça da crise cristaliza em muitos países da Europa central e oriental, de modo a fazer ressurgir novos nacionalismos, populismos e até anti-semitismo, como sucede precisamente na Hungria. Em 2010, um partido da extrema-direita (Jobbik) conseguiu 17% dos votos e hoje exige uma lista dos judeus com responsabilidades no Governo, no Parlamento e nos meios de Comunicação da Hungria. No novo plano de ensino, diversos escritores anti-semitas figuram nos respectivos programas de leitura obrigatória.
Também na Polónia a recuperação de certos aspectos do passado e a insegurança crescente relativamente ao futuro, dinamizou um crescente movimento nacionalista polaco que cada vez mais frequentemente se manifesta nas ruas e, pela segunda vez consecutiva, celebra o Dia Nacional. Recentemente, a Polícia anunciou ter detido um indivíduo que intentara fazer explodir boa parte da classe política de Varsóvia reunida no parlamento, à maneira do norueguês Anders Brevik.
Igualmente na Roménia, onde por estes dias haverá eleições parlamentares, o populismo e o nacionalismo estão na ordem do dia, canalizados pelas estações de televisão privada. Os proprietários dos órgãos de comunicação social, oligarcas que enriqueceram à custa de negócios obscuros que se seguiram à morte de Ceausescu, procuram evitar, por todos os meios, que juízes independentes façam o seu trabalho, ao mesmo tempo que não têm hesitações em destroçar as reputações e pôr em dúvida a honorabilidade de qualquer adversário.
Estes sentimentos antidemocráticos, xenófobos e racistas manifestam-se igualmente na Alemanha. Segundo um recente estudo da Fundação social-democrata Friedrich Ebert, um em cada seis alemães que vivem no território da antiga RDA proclama-se de extrema-direita, e na antiga República Federal, 1 em cada 14. Em toda a Alemanha, um em cada três pensa que os judeus se aproveitam das recordações do holocausto e 60% de todos os alemães têm uma opinião negativa acerca do Islão.
As ideias da velha Europa, afinal de contas, estão bem mais perto do que se julga, enquanto estes sentimentos animam mais corações do que parece… 
 In Sorumbático, 19 Dez 12

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O PERIGO DE DAR NOTÍCIAS


UM GRUPO de importantes jornalistas pede hoje que Edward Kennedy, o correspondente da Associated Press que anunciou o fim da II Guerra Mundial, receba um prémio Pulitzer póstumo.
Para além de premiar com justiça, esta pretensão quer ver cumprida uma reparação para quem foi um excelente jornalista toda a sua vida. Por vezes, cumprir as suas obrigações, ser-se honesto e comprometido e ter talento não basta para se conseguir o reconhecimento profissional, pelo contrário até pode converter-se na causa capaz de destruir uma carreira. Foi o caso de Edward Kennedy e digo-o eu, que sei do que falo.
Edward Kennedy era correspondente de guerra da Associated Press (AP) e teve a infelicidade de dar uma das mais importantes e melhores notícias da primeira metade do século XX: o fim da II Guerra Mundial! Foi aí que começou a queda em desgraça de Kennedy, ao cobrir em 7 de Maio de 1945 a rendição incondicional da Alemanha nazi na cidade francesa de Reims.
Foi então que os países aliados decretaram um embargo de 36 horas sobre esta notícia, a fim de ganharem o tempo necessário a um acordo dos anglo-americanos com os soviéticos, entre os quais havia surgido um certo desentendimento antes desta notícia se tornar oficial. No entanto, ao longo desse mesmo dia algumas rádios alemãs deram a notícia, possivelmente para alertar alguns comandos militares e para avisar determinadas figuras do regime que quisessem abandonar o país.
Ao verificar que os alemães não estavam a respeitar o embargo, Ed Kennedy telefonou para a sede da AP em Londres, ditando um artigo que, em primeira mão, anunciava ao mundo o fim da segunda guerra mundial. A notícia originou, naturalmente, um sem fim de edições especiais nos principais jornais de todo o mundo. Este facto terá causado um profundo mal-estar no governo dos Estados Unidos, que considerava que o repórter tinha desafiado a censura militar. Foi esse facto que motivou que, meses mais tarde, a AP prescindisse dos serviços de Edward Kennedy, a quem viria a ser retirada a sua carteira profissional.
A quase totalidade dos jornalistas e os grandes meios de comunicação social viraram as costas a Kennedy, que daí em diante apenas pôde trabalhar em pequenos jornais de província até morrer em 1963, atropelado por um carro.
67 anos depois de Kennedy ter anunciado ao mundo a maior “cacha” na história da AP (que eu servi durante 7 anos em Londres, Nova York e São Paulo, precisamente a partir de 1963), a  agência pediu publicamente desculpa a Edward Kennedy e reconheceu que o seu despedimento fora um erro muito grave. Agora, mais de meia centena de grandes jornalistas exige o Pulitzer para Kennedy e que o seu nome ocupe o lugar que lhe compete na história do jornalismo.
 In Sorumbático, 17 Dez 12

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O REGRESSO DE WEIMAR

ALGO está a regressar à Europa, desta vez pelo Sul. É por aqui que hoje mais se sente o regresso do fanatismo antidemocrático como resposta à crescente pobreza, à insegurança e ao desespero dos cidadãos.
Estamos de volta a sociedades onde reina a impunidade, onde se afunda a economia, onde se rouba e defrauda e onde nenhum responsável pelas ilegalidades dá a cara perante a justiça ou entra na cela duma prisão. Os cidadãos sentem-se esquecidos e desprezados por uma classe política amestrada pelos poderes económicos aos quais ninguém deu um voto. Partidos tradicionais que coleccionam derrotas eleitorais sem que agora, nem no passado, tenham preparado respostas adequadas à crise cuja chegada apressaram. Vemos assim ressurgirem partidos populistas, em especial conotados com a extrema-direita, que utilizam a força dos argumentos para atrair e canalizar a raiva e a frustração de cada vez mais pessoas.
Um professor da Faculdade de Direito de Atenas escrevia há um par de meses que a Grécia lembra excessivamente a República de Weimar. Os gregos sentem-se castigados pelos planos de ajustamento de Bruxelas como os alemães se sentiam naquele tempo, massacrados pelas exigências das reparações financeiras da I Guerra Mundial que o tratado de Versalhes lhes impunha. E daquela opressão económica nasceram as brigadas de SA, tropas de assalto formadas por jovens sem esperança e por soldados desmobilizados e sem emprego.
Também na Grécia surgiu agora o “Amanhecer Dourado”, que se dedica a espancar e a aterrorizar imigrantes esfomeados, anarquistas, adversários políticos e figuras do mundo da cultura. O “Amanhecer Dourado” foi a eleições e teve 7% dos votos das eleições de Junho. Hoje, graças aos serviços sociais que montou para ajudar os mais pobres, obteriam facilmente 15% da votação.
Como faziam os nazis nos seus primeiros tempos no parlamento alemão, também os deputados do “Amanhecer Dourado” impedem qualquer discussão séria e ameaçam sem tibiezas os seus adversários políticos. Há poucos dias, uma sede deste partido de direita foi atacado com explosivos e vive-se o receio das consequências deste acto. As confrontações nas ruas começam a ganhar expressão e muita gente ainda não esqueceu a pavorosa guerra civil que a Grécia viveu no final da II Guerra Mundial. As sementes do ódio parecem germinar com mais vigor quando se misturam com a fome e a decadência…
 In Sorumbático, 14 Dez.2012

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

OS ARRANJINHOS DOS GENERAIS

A DEMISSÃO do general David Petraeus como director da CIA chamou a atenção para o puritanismo dum país onde o adultério é um delito em 23 estados da união e atinge proporções de extrema gravidade nas suas Forças Armadas. Neste momento, por esse mesmo motivo, altos comandos militares estão a ser investigados, incluindo o general John Allen, que esteve para ser nomeado comandante-chefe das forças da NATO no Afeganistão.
Tudo ficou a descoberto com uma investigação do FBI, que garante a segurança interna e que apanhou em falso o patrão da CIA, envolvido numa suspeita troca de emails com duas mulheres. Estes casos reabriram o debate sobre a estratégia de segurança há anos montada pela própria CIA e apoiada pelo próprio Obama desde que chegou à Casa Branca. 
A CIA é hoje um elemento essencial duma estratégia externa marcada pelas operações especiais e os ataques da sua frota de “drones”(aviões teledirigidos).A chegada a Langley de Petraeus, o general de quatro estrelas autor do manual de contra-rebelião que mudou a guerra do Iraque após os fracassos iniciais, marcou um ponto culminante na militarização da guerra das informações. Obama, que em breve vai ter de remodelar a política externa e a segurança, poderá aproveitar esta ocasião para reformular toda a política de inteligência de Washington.
in Sorumbático,12 Dez.2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

C R O N IC A N D O



A CRÓNICA deveria ter um propósito nobre: falar do que mais ninguém fala e dar voz a quem não a tem. A comunicação social cala as coisas, silencia as pessoas e apaga a memória. A crónica deveria ser para que nada disso acontecesse.
Os bons cronistas devem ser subjectivos, emocionais, pretensiosos, rebarbativos e caprichosos. Os cronistas eram uma praga módica, mas agora são uma epidemia, com o mundo cheio de senhores e senhoras a quem chamam cronistas. Publicam-se antologias de crónicas, abundam cursos de escrita criativa dirigidos à crónica, aparecem teses a estudar a crónica, há workshops e cursilhos de crónicas. Dezenas de possibilidades e de perigos.

Há anos, os cronistas receavam a internet. Hoje, trocam dicas sobre como aproveitarem as redes sociais. É interessante conhecer verdadeiros cronistas um pouco por todo o mundo e descobrir que já  nenhum deles fala dos grandes media, jornais ou revistas, deste ou daquele país e em que moeda pagam, todos fugimos dos meios tradicionais para despontarmos em revistas amigas  ou surgirmos em blogues, essa nova folha de papel virtual onde deitamos os nossos textos.

A mim sempre me interessou que a crónica fosse um género marginal, uma opção, uma escolha à margem da principal corrente, uma RTP2 em vez duma RTP1,aquela que só vê quem quer, quando nada mais valia a pena ver.

 Por estas e por outras é que a crónica deve ser subjectiva, pretensiosa, fura-vidas, marginal, capaz de meter em crise as linguagens tradicionais, os estilos enganosos, os senhores e senhoras cronistas e este poder que os pariu.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

NOTAS, MOEDAS E CÂMBIOS

TODOS devem ter reparado que é raro conseguirmos que as ATM (Multibanco), ou mesmo num balcão, nos dêem uma nota maior de 20 euros. Para quem é constantemente acusado de viver acima das suas possibilidades parece-me uma grave contradição. Mas notas grandes de euro é coisa raramente vista. Recordo-me da comoção, entre as caixas dum supermercado, onde um casal angolano pagou o seu carrinho de compras com uma nota de 500 euros. Até meteu o gerente e, pelo menos, duas filas à espera! Não escondo a satisfação de ver uma nota de 50 e a dificuldade com que dela me separo…
Com esta história de virmos a ser escorraçados do euro, juntamente com a Grécia, ponho-me a imaginar o escudo igual ao dracma e a Espanha outra vez com a peseta a valer metade da nossa moeda e nós sem notas, ou sem moedas. E ponho-me a pensar no Equador, que não tem moeda própria e cujo sistema financeiro prospera!
No Equador todas as transacções são feitas em dólares americanos. As únicas notas que lá existem são as da moeda norte-americana. Curiosamente, as contas fazem-se com poucos trocos, porque não há moedas! Então o governo equatoriano imprimiu moedas para facilitar os trocos dos que vivem dos tostões. Há moedas de 50, 25, 10, 5 e 1 cêntimos. Que não são iguais a coisa nenhuma, com umas figurinhas mal identificadas. Digamos que são moedas duma moeda que não existe, fracções do dólar americano que não podem circular nos Estados Unidos porque são equatorianas.
Com este Governo que nós temos, não me espantaria se o visse a bater palmas por sairmos do euro e ficarmos privados dum símbolo nacional e sem um instrumento de poder que é a moeda própria. Os nossos ministros deveriam adorar passarem a receber em marcos…
In Sorumbático - 7 Dez 12

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ERAM, UMA VEZ, JORNAIS, RÁDIOS E TELEVISÕES…


OS VELHOS modos de informar e comentar já não são válidos. As ligações dos jornalistas aos políticos já não garantem nem o presente nem o futuro. Os tradicionais pactos do poder com os cidadãos foram rasgados e os novos políticos começam a só confiar nas redes sociais e nos meios digitais.
É fácil enterrarmo-nos nas torrentes de informação, mas compreender é mais difícil. Do velho jornalismo há uns que tentam sobreviver sem saber como, há outros que ficaram parados e aturdidos, sem entenderem os acontecimentos, e querendo acreditar que se não publicaram a notícia da sua própria crise, é porque ela não existe.
Sem influência e com parcos rendimentos, os gestores dos meios da comunicação social dizimam redacções e pedem campanhas de publicidade institucional e contêm-se sem destapar o jornalismo de indignação.
Uma legião de jovens jornalistas vagueia à procura de colaborações esporádicas, pois de postos de trabalho fixos é melhor nem falarmos. Os que ainda são pagos com regularidade vêem os seus salários desvalorizar-se e, em alguns casos, até desaparecer… lêem bem, desaparecer! Em Itália e Espanha, associações sindicais de jornalistas chegaram ao extremo de lançarem uma campanha subordinada ao tema “de borla não trabalhamos”!
Por outro lado, um jornalista que só encontra trabalho gratuito pode ter mais facilidades para se dedicar ao jornalismo que mais lhe interesse, do que acontecia até aqui. Os poucos custos dum meio digital deixam ao alcance de qualquer a possibilidade de empreender novos projectos. O aparecimento de novos meios em formato digital permite ter essa esperança. A de se fazer jornalismo por vocação, como sucedia dantes aos velhos jornalistas e editores. Para ter influência, para que um novo negócio sustentável ressurja, mas principalmente para prestar um serviço à sociedade. Esse jornalismo de vocação acabou por morrer ainda no tempo das vacas gordas. Colou-se tanto ao poder que acabou por arder com ele. E isso foi tão evidente para tanta gente que hoje tem de se explicar, tintin por tintin, por que razão o jornalismo faz muita falta à democracia.
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In Sorumbático, 4 Dez 12

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A PALESTINA NAS NAÇÕES UNIDAS

65 ANOS depois de terem recusado a partilha que a Assembleia Geral das Nações Unidas decretou, os palestinos pediram hoje que a sua Autoridade Nacional fosse promovida de entidade observadora para “Estado observador não membro”,a mesma situação de que desfruta o Vaticano.
Os palestinos contavam com o voto favorável de cerca de 150 nações entre os 193 estados membros, maioria confortável para desespero de Israel, onde a oposição acusa o governo de isolar cada vez mais a nação. Ao contrário do Conselho de Segurança, ninguém pode vetar na Assembleia Geral a petição dos palestinos de verem o seu Estado admitido como membro de pleno direito na ONU.
Para os palestinos, que carecem de condições essenciais dum Estado, a começar pela própria soberania, esta votação é meramente simbólica. Apesar da oposição veemente do governo de Israel e do seu aliado Barack Obama, esta poderia constituir uma das últimas oportunidades para relançar um processo que alcance a paz e a segurança entre os Estados de Israel e da Palestina.
Israel teme que os palestinos possam denunciá-los, face à justiça internacional, pela violação de direitos na ocupação e em certas acções militares, além de poder ser remetida para as fronteiras de 1967, as quais hoje recusa aceitar. O presidente da autoridade palestina, Mahmud Abbas, declarou-se receptivo a negociações sem condições prévias, o que torna ainda mais condenável que o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Liebermann, tenha ameaçado derrubá-lo das suas funções perante um voto positivo, ao mesmo tempo que Obama ameaça suspender as ajudas aos palestinos, face àquilo que mais não é do que um avanço no sentido da paz no Médio Oriente.
Um dos erros que Israel cometeu foi não ter percebido que Arafat – cujo cadáver foi exumado ontem – havia sido o travão da islamização do caso da Palestina, agora representado pelo Hamas. Hoje, a demografia palestina não garante a segurança de Israel, como se viu nos últimos dias em mais esta crise com o Hamas, em Gaza. 
Bom seria que este mês de Novembro marcasse o fim do caminho de violência e morte traçado desde 1947, de modo a que a História pudesse regressar ao ponto de partida que um grave equívoco dos palestinos e do mundo árabe daquela época, mais a intransigência insuportável de Israel bloquearam por completo até aos nossos tempos.
In Sorumbático de 30 Nov 12

terça-feira, 27 de novembro de 2012

UM DIA HISTÓRICO


TERÇA-FEIRA, dia 27 de Novembro de 2012, um dia histórico: os deputados do PSD e do CDS juntaram-se e aprovaram o contrário daquilo que prometeram aos eleitores que os elegeram: não aumentarem impostos, não reduzirem salários nem confiscarem pensões.
Em campanha para as eleições, alinhados atrás deste primeiro-ministro, todos eles nos prometiam que os trabalhadores, os funcionários públicos, os pequenos empresários e os pensionistas podiam ficar descansados. Ninguém seria prejudicado, para além dum certo recato, proporcionalmente compartido, que naturalmente todos sentíamos justo que houvesse, depois do socrático regabofe socialista e do estampido dos boys & girls deles.
Afinal, hoje, trabalhar não vale a pena, os impostos levam tudo, trabalhadores, empresários e pensionistas são espoliados pelo conto do vigário de políticos que, afinal, apoiam e aprovam o saque com que este governo dá cabo dos remediados, aos quais pomposamente chamam classe média.
Este novo Orçamento é para acabar com o resto. O IVA é uma espécie de rajada que abate o consumo e afunda comércio e indústria. O IMI vai ser o golpe de misericórdia de quem julgava sobreviver. E os Boys & Girls destes juntam-se aos Boys & Girls dos outros, todos a chilrear como autênticos bandos de cucos milharucos à solta, a debicarem o que resta depois de quem sabe trabalhar ter ido para o estrangeiro, ganhar a bucha.
E pergunto eu, que não percebo destas coisas: aquele senhor que mora em Belém pensará que esta maioria de deputados não violou o mandato que o povo lhe deu e ainda tem legitimidade democrática!? É homem para pensar isso... Vai uma aposta!?
 In Sorumbático, 27 Nov 12

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

URGENTES PALIATIVOS!

HOUVE tempos, durante a ditadura, em que os jornais não podiam dar notícia de suicídios. Quando os jornalistas tentavam passar essa informação, a censura cortava. Dizia-se que era para que não se pensasse que havia gente infeliz naquele regime e com aquela vida. Mas acredito, também, que fosse para não servir de exemplo, na medida em que os suicídios, ainda hoje, parecem ser coisa contagiosa.
Para darem a entender que a morte dum fulano tinha sido consequência dum suicídio, os jornalistas escreviam, então, que o defunto tinha sido vítima dum seu “tresloucado acto”. Os psiquiatras explicavam que o conhecimento público de suicídios sugeria pessoas com angústias extremas, ou com fortes desequilíbrios mentais, que daquele modo encontravam saída para os seus problemas.
Escreveu Plínio que “entre as misérias da nossa vida, o suicídio constitui o mais apreciado dom que Deus concedeu ao homem”. Diz agora o economista francês Jean Paul Fitoussi, relativamente à crise, que “ as leis da economia são impiedosas e é preciso que nos adaptemos a elas, reduzindo as protecções de que ainda dispomos. Se vós quereis enriquecer, deveis aceitar previamente uma maior precariedade. Este é o caminho que vos levará ao futuro”.
Em meu entender, o que mais falta é a sustentabilidade moral do sistema. Portugal está atrasado a corrigir os seus condicionamentos sociais e económicos, a sua estrutura jurídica ultrapassada e anacrónica, resultado da totalmente desperdiçada década de 90. Uma das suas condicionantes negativas é sermos um país de proprietários e não de arrendatários, entre outras razões porque o mercado do crédito correspondeu à ideia patrimonial da sociedade portuguesa.
Hoje, para muitos portugueses, perder a casa é perder a identidade. Daí não termos dificuldades em entender o que levou aquela espanhola a saltar pela janela e matar-se durante a execução da acção de despejo do seu apartamento.
Por estas últimas razões, é urgente criar um paliativo a muitas situações dramáticas que a crise económico-financeira está a criar. Portugal não pode continuar, por muito mais tempo, numa textura psicológica tão tensa, tão crispada e instável como a que estamos a viver. É urgente criar válvulas de escape que aliviem a pressão que aumenta constantemente, ameaçando a ruptura completa.
 In Sorumbático, 23 Nov 12

terça-feira, 20 de novembro de 2012

AS FACTURAS DA ENERGIA…


ENTRE os meus amigos e conhecidos não sei bem aquilo que mais odeiam: se o gás, a luz ou a água. Nenhum deles põe em causa a importância destes três bens essenciais à nossa vida, está bom de ver. Aquilo de que eles se queixam e protestam é da falta de vergonha de quem administra os respectivos fornecimentos e olham estarrecidos para os valores que cada mês as correspondentes facturas lhes apresentam.
Julgo, no entanto, que o principal alvo da fúria destes consumidores é a EDP, que tem o descaramento de apresentar quase meia factura com parcelas que não correspondem a bens de consumo. Impostos, taxas, custos e SIEG, que é um vocábulo que a EDP inventou antes da chegada dos chineses para ali meter aquilo que chama de “Serviços de Interesse Económico Geral”, e que servem para encapotar actividades estranhas, designadamente as dos seus sócios das energias renováveis.
Os pobres vão ter um inverno mais frio e os mais velhos podem adoecer com mais facilidade face a este entendimento social da EDP que, por outro lado, não regateia o seu contributo para inviabilizar muitas empresas já aflitas, as quais já poderão assim fechar, lançando mais umas centenas de portugueses no desemprego.
Bons tempos, meus amigos, os do Senhor Faísca e os da Electricidade em pó…
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In Sorumbático, 20 Nov 12

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ANTES BUNGA-BUNGA DEMOCRÁTICO…

PELA quarta vez, Silvio Berlusconi foi condenado a prisão por fuga aos impostos. Quatro vezes condenado, sem nunca ter sido preso. Agora foi condenado a quatro anos de cadeia e a sentença foi logo reduzida para 12 meses, embora o antigo primeiro-ministro italiano ainda possa recorrer e ganhar o tempo que lhe for possível manter em liberdade os seus 76 anos de idade.
Somando os três mandatos, Berlusconi foi chefe do Governo de Itália durante dez anos. Actualmente, prepara-se para regressar à política e promete defrontar o homem que o substituiu depois de pressões internas e externas, alegadamente de Angela Merkel, o terem afastado do Governo que legitimamente formara, depois de legal e democraticamente ter sido eleito.
Monti, ex-comissário europeu e professor de economia, foi posto no lugar de Berlusconi sem um único voto. Tecnocrata, tem beneficiado do apoio de diversos partidos, entre os quais o de Berlusconi, que agora ameaça retirar-lhe esse apoio depois desta última condenação. Em Itália, há uma grande indignação por esta atitude do ex-primeiro ministro. Vejam lá se estes democratas estão preocupados por serem governados por um fulano que nenhum deles foi ouvido nem achado para lá pôr!
Por mim, que não sou italiano, confesso que acho graça a Berlusconi e às suas festas Bunga-bunga… a única coisa que não aprecio nele é o cabelo pintado! Mas isto sou eu, que tenho uma ideia estranha de democracia, pensando eu que quem é eleito é que deve governar... 
In Sorumbático 16 Nov 12

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

MAL ENTERRADOS

A REDUÇÃO das reformas e pensões são as piores, mais cruéis, e moralmente mais criminosas, das medidas de austeridade a que, sem culpa nem julgamento, fomos condenados pelo directório tecnocrático que governa o protectorado a que os nossos políticos reduziram Portugal.
Para os reformados e pensionistas, o ano de 2013 vai ser ainda pior do que este 2012. Os cortes vão manter-se ou crescer e, com o brutal aumento de impostos, a subida dos preços dos combustíveis, do gás e da electricidade, e o encarecimento de muitos bens essenciais, o rendimento disponível dos idosos será ainda menor.
Os aposentados são indefesos. Com a existência organizada em função dum determinado rendimento, para o qual se prepararam toda a vida, entregando ao Estado o estipulado para este fazer render e pagar-lhes agora o respectivo retorno, os reformados não têm defesa. São agora espoliados e, não tendo condições para procurar outras fontes de rendimento, apenas lhes resta, face à nova realidade que lhes criaram, não honrar os seus compromissos, passar frio, fome e acumular dívidas.
No resto da Europa, os velhos viram as suas reformas não serem atingidas e, em alguns casos, como sucedeu, por exemplo, em Espanha, serem até ligeiramente aumentadas. Portugal não é país para velhos. Os políticos devem pensar que os nossos velhos já estão mortos e que, no fim de contas, estamos todos mal enterrados...
In Sorumbático – 12 Nov 12

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

DEUS LHES PERDOE…

AS INTRIGAS evidentes nas eleições dos papas na Idade Média e no Renascimento não acabaram. Tornaram-se mais modernas. Os italianos querem regressar ao papado depois de mais de 30 anos de jejum.
É, portanto, natural que no seio da cúria exista uma luta surda, pois é esta que escolhe os papas. Ninguém chega a cardeal sem a secreta esperança de vir a ser papa. Por isso não se escolhem jovens para que não se perca a esperança. Wojtila foi excepção depois da morte inesperada de Lucianis.
Uma coisa é certa: o mordomo do papa não andou a roubar documentos para mostrar à família nem foi Nosso Senhor que lhe pediu. Está na cadeia a pagar o ter aceite servir como instrumento nas intrigas da cúria. Que Deus lhes perdoe… 
In Sorumbático, 9 de Nov.2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

NADA COMO DANTES…



O MUNDO modificou-se tanto nos últimos tempos que não é possível continuarmos a pensar como até aqui. Prever o que se vai deparar-nos pela frente também não é fácil e não nos adianta muito. Nada como dantes, o quartel-general já não é em Abrantes…
Com Obama, ou com Romney, não sabemos hoje como vão ser as coisas nos Estados Unidos da América e é difícil prever as diferenças entre os dois. Mas uma coisa é certa: sabemos que quer num caso, quer no outro, tanto ganhe um quanto ganhe o outro, os Estados Unidos vão ser muito diferentes e muito pouco terão a ver com aquilo que se lhes conheceu até agora, acelerando profundas transformações em todo o mundo.
Igualmente desconhecemos como vai ficar a Europa quando lograr libertar-se deste remoinho em que actualmente se debate e afoga. Tal como parece já ser-nos indiferente, e cada vez nos importamos menos, quanto a sabermos quem vai ganhar estas ou aquelas eleições. Os resultados vão rapidamente transformar-se em coisas do passado e nada vai ser igual para as novas gerações...
 In Sorumbático, 8 Nov.2012

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

AS PAREDES DO NOSSO DESCONTENTAMENTO


O NOSSO amigo Carlos Medina Ribeiro, a alma e a cabeça deste SORUMBÁTICO que todos nós lhe devemos, é um olissipógrafo incansável, denunciando com os seus textos e fotografias os atropelos que Lisboa sofre, todos os dias, com maior ou menor arte. Nas suas fotos e em muitas das suas queixas figuram os graffiti, obscenos e sem sentido, quase todos eles. Simples porcaria urbana.
Devo confessar que aprecio os verdadeiros artistas do graffiti e algumas das suas obras. Conheço, aliás, cidades onde lhes é dado espaço em zonas decadentes onde muitos inscrevem nas paredes verdadeiras obras-primas. Eu próprio gostaria de um dia ter uma casa, um edifício, um armazém, onde uma equipa desses talentosos artistas se pudesse exprimir livremente e com bom gosto. Madrid e Barcelona souberam aproveitá-los…
Agora, até um vereador da Câmara de Lisboa promete bater-se contra os graffiti.Vamos esperar para ver... Sem dúvida que exercida assim, clandestinamente, a inscrição em paredes não é nenhuma arte, é porcaria urbana que desfeiam casas, cobrem muros, sujam monumentos, estragam estátuas e emporcalham comboios, constituindo atentados contra a propriedade alheia. Geralmente, os seus autores permanecem impunes e os graffiti custam muito dinheiro a limpar.
Resta saber se há meios para impedir a prática de tais crimes e se depois do trabalho dos esforçados agentes policiais os tribunais não se ocupam a reenviá-los para a rua, como sucede com frequência entre nós, com autores de infracções bem mais graves.
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 In Sorumbático, 31 Outubro 2012

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A FÉ QUE NOS ABANDONA



PORTUGAL está a perder fé no europeísmo. Compreende-se! Foi longa e acidentada a viagem desde a “Europa Connosco”, os sorrisos do “mon ami Mitterrand”, os gritos do Kreisky no Porto, os berros do Felipe Gonzalez em Campo Maior e o punho de ferro do Helmut  Schmidt no Largo do Rato, passando pelo Fundo Social Europeu, até  chegarmos  a este beijo da morte da troika. 
Mas se em 1985, um ano antes do Dr. Soares assinar os papéis nos Jerónimos, só 24 por cento dos portugueses acreditavam na Europa comunitária e queriam entrar para o clube, verdade se diga que em 1987, um ano depois de estarmos a pagar quotas, 70 por cento dos Portugueses já eram a favor da UE e pensavam e sentiam que estava a ser muito bom para nós estarmos ali aninhados, a receber cada vez mais e a fazer cada vez menos.
Segundo os últimos inquéritos e estudos de hoje, no presente, só 40 por cento dos Portugueses são a favor de continuarmos comunitariamente europeus. O que é pouco, se pensarmos que estamos ao mesmo nível das repúblicas bálticas, que sempre viram na Europa Comunitária um desígnio instrumental, e muito pouco, se nos recordarmos que o presidente da Comissão Europeia é Português e até já foi nosso Primeiro-Ministro.
In Sorumbático, 6 Novembro 2012

sábado, 3 de novembro de 2012

ESCUSAMOS DE FICAR DESCANSADOS


A GENTE com amigos destes não precisa de inimigos!
Vêm os queridos do Governo e sacam-nos ainda mais do que a troika quer, atirando-nos para um  lixo mais velho e mais mal cheiroso do que aquele onde as agências de notação nos puseram,  e do qual ainda não nos limpámos. Os velhos descobrem que vivem anos a mais, os jovens percebem que vão ter anos a menos, e tudo e todos pagam imposto.
Mas se há uns quantos que se safam dos impostos, ou têm meios para os pagar, logo chega o Dr. Sobrinho Simões e garante a todos que, ele seja ceguinho, se daqui a dez anos, um em cada dois portugueses  não vai ter cancro. Só não explicou se o cancro é para aquele que não aguenta os impostos, ou é castigo para o que pode; também não esclareceu se os reformados e desempregados ficam isentos de impostos ou vêem ser-lhe aumentada a taxa moderadora.
Por fim,  salta-nos ao caminho  o coronel Vasco Lourenço e promete, não faço ideia a propósito de quê: uma nova ditadura  está a caminho de Portugal e, na Europa, a guerra é inevitável!
Adoro estes fregueses das bolas de cristal. Não perdem tempo com ninharias tipo saímos ou não saímos do Euro, ou vamos, ou não, seguir o destino da Grécia. É logo de descasca pessegueiro, para não termos tempo de nos animar! Escusamos de ficar descansados… Compreende-se: se não for assim, não há jornal nem televisão que lhes pegue!
In Sorumbático, Nov.2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A EUROPA UNIDA JAMAIS SERÁ VENCIDA…



PARA OS FILHOS da Flandres, a Bélgica é uma invenção despropositada e opressiva que obriga seis milhões de flamengos a trabalharem para pagar a improdutividade de 5 milhões de valões do Sul do País. Uns falam neerlandês, os outros falam francês, são todos católicos e têm o mesmo rei. Os flamengos gostavam de se verem livres dos valões e deste País inventado pelos britânicos, depois das guerras com Napoleão, para servir de amortecedor a possíveis futuros invasores. Mas o franco belga desapareceu e a manterem a Bélgica restam o rei e Bruxelas, que ainda ninguém teve coragem de dividir ao meio, repartindo a UE, a NATO e as outras organizações internacionais que ali têm sede, deixando uma corte francófona paredes meias com a sede duma nova República neerlandesa, uma dum lado, a outra do outro. 
Muitos italianos do Norte também adorariam separar-se do resto do País, libertarem-se da Itália do Sul, deixarem para lá o “mezzo giorno” pobre, pouco trabalhador e não muito produtivo, entregue ao crime organizado que tanto os envergonha. A Liga do Norte, partido que até já esteve no Poder e participou em Governos de Roma, sonha com a independência do que chamam Padânia, esse novo País sonhado para o Norte da Itália.
Os corsos almejam a independência da sua Córsega do resto da França e não desarmam as suas pretensões separatistas. O País Basco aspira à independência, quer do reino de Espanha, quer de parte do Sul da França, enquanto também a Catalunha deseja igualmente a sua independência de Madrid, ainda que duma forma mais suave do que os Bascos mas muito mais interesseira.
Em 2014, a Escócia vai dizer-nos através dum referendo se quer a independência do Reino Unido, apesar de gozar de ampla autonomia e se governar por meio dum criativo e independente parlamento que lhe fiscaliza o executivo e dita as suas leis.
Ainda há muito pouco tempo assistimos à explosão da antiga Jugoslávia, pulverizada em diversas repúblicas, e vimos também a implosão da Checoslováquia, que se rasgou em duas, enquanto as antigas repúblicas soviéticas também davam o seu grito do Ipiranga, embora algumas delas ainda mantenham situações territoriais e étnicas mal resolvidas.
É desta Europa que os burocratas que governam muito deste continente reclamam solidariedade, não se percebe bem nem como nem porquê. A nós, desde que nos gritaram “A Europa Connosco”, nunca ninguém explicou porque razões a Europa não tem uma política externa comum e umas forças armadas sob o mesmo comando. Assim como também se têm esquecido de apontar a nossa superioridade: país continental uno e indivisível, uma só língua (ainda que cada vez mais maltratada) e 900 anos de História (também cada vez mais esquecida).
Pois é! A Europa é tudo aquilo que cumpro o ingrato dever de aqui recordar. Não nos embalem agora na canção de “a Europa Unida jamais será vencida”, depois de estarmos todos a perceber que também é mentira o que nos disseram da ”Europa estar connosco”.
Mais Alentejo, Outubro 2012