MUITOS de nós, Portugueses, adoram partir
pedra. Quer esta expressão dizer que adoram falar por falar, não resistem a
discutir o sexo dos anjos, pôr grande calor e manifestar grande empenho em
mandarem vir opiniões sobre assuntos de lana
caprina, desde que não tenham de pensar e discutir o que verdadeiramente
conta e realmente importa.
Uma coisa é fazer isto numa sala de bilhar, numa cervejaria, no
café, outra coisa muito diferente é fazer isso mesmo na rádio e na televisão. A
última vez que ouvi rádio, era isso mesmo que acontecia, mas foi há tanto tempo
e não encontrando ninguém que ainda ouça rádio, sou levado a pensar que essa
tendência se mantém, a fazer fé nas discussões, conversas e entrevistas a
avençados que comparecem nas televisões para gastar tempos e ocupar espaços.
Diz o nosso povo que contra factos não há argumentos. Mas acabamos
por distorcer, discutir, pôr em causa os factos e fazer vir ao de cima os
argumentos da morrinhanha. Deve ser por respeitar esta tendência que o governo,
para dizer qualquer coisa que ninguém percebe precisa de falar, pelo menos,
três vezes. É como aquela de que não somos como os gregos, não podemos
parecer-nos com os gregos, afinal já somos como os gregos! Fazemos com a
compreensão o que os surdos fazem com o ouvido: vais à caça? Não, vou à caça!
Ah! julgava que ias à caça!
O que parece importante é não falarmos naquilo que é importante
para nós, ou pode ser decisivo para o país. Sabem onde e quando se nota mais
isto? Quando se compra e lê jornais estrangeiros. Experimentem! Parece que
desembarcámos em Marte e até gostamos das histórias que por lá se contam!
In Sorumbático, 21 Dez 12
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