sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O REGRESSO DE WEIMAR

ALGO está a regressar à Europa, desta vez pelo Sul. É por aqui que hoje mais se sente o regresso do fanatismo antidemocrático como resposta à crescente pobreza, à insegurança e ao desespero dos cidadãos.
Estamos de volta a sociedades onde reina a impunidade, onde se afunda a economia, onde se rouba e defrauda e onde nenhum responsável pelas ilegalidades dá a cara perante a justiça ou entra na cela duma prisão. Os cidadãos sentem-se esquecidos e desprezados por uma classe política amestrada pelos poderes económicos aos quais ninguém deu um voto. Partidos tradicionais que coleccionam derrotas eleitorais sem que agora, nem no passado, tenham preparado respostas adequadas à crise cuja chegada apressaram. Vemos assim ressurgirem partidos populistas, em especial conotados com a extrema-direita, que utilizam a força dos argumentos para atrair e canalizar a raiva e a frustração de cada vez mais pessoas.
Um professor da Faculdade de Direito de Atenas escrevia há um par de meses que a Grécia lembra excessivamente a República de Weimar. Os gregos sentem-se castigados pelos planos de ajustamento de Bruxelas como os alemães se sentiam naquele tempo, massacrados pelas exigências das reparações financeiras da I Guerra Mundial que o tratado de Versalhes lhes impunha. E daquela opressão económica nasceram as brigadas de SA, tropas de assalto formadas por jovens sem esperança e por soldados desmobilizados e sem emprego.
Também na Grécia surgiu agora o “Amanhecer Dourado”, que se dedica a espancar e a aterrorizar imigrantes esfomeados, anarquistas, adversários políticos e figuras do mundo da cultura. O “Amanhecer Dourado” foi a eleições e teve 7% dos votos das eleições de Junho. Hoje, graças aos serviços sociais que montou para ajudar os mais pobres, obteriam facilmente 15% da votação.
Como faziam os nazis nos seus primeiros tempos no parlamento alemão, também os deputados do “Amanhecer Dourado” impedem qualquer discussão séria e ameaçam sem tibiezas os seus adversários políticos. Há poucos dias, uma sede deste partido de direita foi atacado com explosivos e vive-se o receio das consequências deste acto. As confrontações nas ruas começam a ganhar expressão e muita gente ainda não esqueceu a pavorosa guerra civil que a Grécia viveu no final da II Guerra Mundial. As sementes do ódio parecem germinar com mais vigor quando se misturam com a fome e a decadência…
 In Sorumbático, 14 Dez.2012

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